quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Fragmentos de um discurso amoroso.
1
Que é que eu penso do amor? - Em suma, não penso em nada. Bem que eu gostaria de saber oque é, mas estando do lado de dentro, eu o vejo em existência, não em essência. O que quero conhecer (o amor) é exatamente a matéria que uso para falar (o discurso amoroso). A reflexão me é certamente permitida, mas como esta reflexão é logo incluida na sucessão de imagens, ela não se torna nunca reflexividade: excluído da lógica (que supõe linguagens exteriores umas as outras), não posso pretender pensar bem. Do mesmo modo, mesmo que eu discorresse sobre o amor durante um ano, só poderia esperar pegar o conceito "pelo rabo": por flashes, fórmulas, surpresas de expressao, dispersos pelo grande escoamento do imaginário; estou no mau lugar do amor, que é seu lugar iluminado: "O lugar mais sombrio, diz um provérbio chines, é sempre embaixo da lâmpada".
2
Adoravel é o vestigio futil de um cansaço, que é o cansaço da linguagem. De palavra em palavra me esforço para dizer de outro modo o mesmo da minha liguagem, impropriamente o proprio de meu desejo: viagem ao termino do qual minha ultima filosofia so pode ser reconhecer - e praticar - a tautologia. É adoravel oque é adoravel. Ou ainda. Adoro voce porque voce é adoravel, te amo porque te amo. Assim, o que fecha a linguagem amorosa é aquilo mesmo que a instituiu: a fascinação. Pois descrever a fascinação não pode nunca, no fim das contas, ultrapassar este enunciado: "estou fasinado". Ao atingir a estremidade da linguagem, la onde ela não pode senão repetir sua ultima palavra, como um disco arranhado, me embriago de sua afirmação: a tautologia não é esse estado inusitado, onde se acham misturados todos os valores, o fim glorioso da operação logica, o obsceno da tolice e a explosãodo sim nietzschiano?
3
"Estou apaixonado? - Sim, pois espero." O outro nunca espera . Às vezes quero representar auqele que não espera; tento me ocupar em outro lugar, chegar atrasado; mas este jogo perco sempre: oque quer que eu faça, acabo sempre sem ter o que fazer, pontual, ate mesmo adiantado. a identidade fatal do enamorado não é outra senão: sou aquele que espera.
4
Dizem-e: esse genero de amor não é viavel. Mas como avaliar a viabilidade? Porque que o que é viavel é um bem? porque durar é melhor que inflamar?
5
Como ciumento sofro quatro vezes: poruqe sou ciumento, porque me reprovo de se-lo, porque temo que meu ciume machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluido, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.
6
Sem querer, o dedo de Werther toca o dedo de Charlotte, seus pés, sob a mesa, se encontram. Werther poderia se abstrair do sentido desses acasos; poderia se concentrar corporalmente sobre essas fracas zonas de contato e gozar esse pedaço de dedo ou de pé inerte, de um modo fetichista, sem se preocupar com a resposta (como deus - é sua etimologia - o fetichenão responde). Mas precisamente: Werther é perverso, ele esta apaixonado: cria sentido, sempre, em toda parte, de coisa alguma, e é o sentido que o faz ficar arrepiado: ele esta no braseiro do sentido. Todo contato, para o enamorado, coloca a questão da resposta: pede-se à pele que responda.
(Pressão de mãos - imenso dossiê romantesco - , gesto delicado no interior da palma, joelho que não se afasta, braço estendido, como por acaso, no encosto so sofa e sobre o qual a cabeça do outro vem pouco a pouco repousar, é a região paradisiaca dos signos sutis e clandestinos: como uma festa, não dos sentidos, mas do sentido.)
* Esta obra-prima de Roland Barthes, Fragmentos de um Discurso Amoroso, é uma resposta do autor aos seus contemporâneos, que haviam marginalizado completamente a linguagem do amor de sua esfera do pensamento, das suas concepções artísticas, culturais ou científicas. Ela era reputada como algo pertencente a um passado excessivamente sentimental, sendo, portanto, segregada por aqueles que se consideravam modernos. Barthes devolve ao discurso do amor sua dignidade, seu brilho inigualável, ao resgatar a noção dos antigos sobre a alma deste sentimento. Assim, ele retoma os conceitos filosóficos, de Platão a Nietzsche, navega pela Psicanálise de Freud e de seus adeptos, empresta as noções essenciais do Zen e de outras vertentes místicas, assentando-se sobre o alicerce literário, principalmente na releitura de Werther, de Goethe.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
A MORTE
A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Transfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida.
(Vinicius de Moraes)
sábado, 4 de dezembro de 2010
Reconstruindo o mundo
O pai estava tentando ler o jornal, mas o filho pequeno não parava de pertubá-lo. Já cansado daquilo, arrancou uma folha - que mostrava o mapa do mundo - , cortou-a em vários pedaços e entregou-a ao filho.
- Pronto, aí tem algo para você fazer. Eu acabo de lhe dar um mapa do mundo e quero ver se você consegue montá-lo exatamente como ele é.
Voltou a ler seu jornal, sabendo que aquilo ia manter o menino ocupado pelo resto do dia. Quinze minutos depois, porém, o garoto voltou com o mapa.
- Sua mãe andou lhe ensinando geografia? - perguntou o pai, aturdido.
-Nem sei o que é isso, pai - respondeu o menino. - acontece que do outro lado da folha tinha o restrato de um homem. E, uma vez que consegui reconstruir o homem, eu também recontruí o mundo.
- Pronto, aí tem algo para você fazer. Eu acabo de lhe dar um mapa do mundo e quero ver se você consegue montá-lo exatamente como ele é.
Voltou a ler seu jornal, sabendo que aquilo ia manter o menino ocupado pelo resto do dia. Quinze minutos depois, porém, o garoto voltou com o mapa.
- Sua mãe andou lhe ensinando geografia? - perguntou o pai, aturdido.
-Nem sei o que é isso, pai - respondeu o menino. - acontece que do outro lado da folha tinha o restrato de um homem. E, uma vez que consegui reconstruir o homem, eu também recontruí o mundo.
O agora, o presente, sempre me fascinou mais.
Nunca fui de pensar como seria o amanhã, talvez por prever as maravilhas que já estão a mim reservadas no futuro.
Simplesmente porque é uma questão de interdependência, quanto mais evolução, mais gratificação.
Como tenho muito a evoluir, tenho muito a receber.
Mas, recentemente me pego refletindo sobre este tal percurso.
E por incrível que pareça você sempre está em alguma estação, na verdade não consigo imaginar esta estrada sem você, quanto mais vivê-la.
“Existem muitos motivos para não se amar uma pessoa, mas apenas um para amá-la”.
A mim basta a certeza que o que você tem de mais lindo, por incrível que pareça, não está palpável, não reflete no espelho.
A mim tudo é por livre e espontânea vontade.
E me desculpa as possíveis más interpretações, me desculpe a estética, a cultura, a moda, a tradição, ou o que quer que seja, mas o meu coração eu entrego a quem possui e reverencia os mesmos valores.
Simplesmente porque é uma questão de interdependência, quanto mais evolução, mais gratificação.
Como tenho muito a evoluir, tenho muito a receber.
Mas, recentemente me pego refletindo sobre este tal percurso.
E por incrível que pareça você sempre está em alguma estação, na verdade não consigo imaginar esta estrada sem você, quanto mais vivê-la.
“Existem muitos motivos para não se amar uma pessoa, mas apenas um para amá-la”.
A mim basta a certeza que o que você tem de mais lindo, por incrível que pareça, não está palpável, não reflete no espelho.
A mim tudo é por livre e espontânea vontade.
E me desculpa as possíveis más interpretações, me desculpe a estética, a cultura, a moda, a tradição, ou o que quer que seja, mas o meu coração eu entrego a quem possui e reverencia os mesmos valores.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
PROTESTO !!!
Contra a desigualdade social, o analfabetismo, a distribuição de renda, a alta dos juros, os principios, as regras e o moralismo. Protesto contra o salario minimo, contra o preconceito e a guerra civil que temos no Brasil. Protesto contra a ciencia e a religião, o ateu e o teologo, o cetico e o dogmatico, o materialista e o capitalista, o machismo e o feminismo, a ditadura e a democracia.
Protesto contra o facismo, o nazismo e o totalitarismo, contra doutrinas e estereotipos, o empirismo e o absolutismo. Tambem protesto contra o objetivo e o subjetivo, a cosmologia e a metafisica, contra o teorico, o especulativo e o pragmatico, o existencialismo, a etica e a alienação.
Protesto contra a cultura, a estetica, os modelos, modas e moldes, todos os tipos de argumentação e pensamentos. Protesto contra a censura e me censuro.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Existem momentos que vale por uma vida inteira.
Refletir estes momentos é nostalgia demais, tem que ter peito, não ser cardíaco, ter vivido, sempre feito, ou como agora, acordar bêbado. De todos estes, os melhores são aqueles que vocês estão do meu lado.
Na verdade eu nem sei explicar direito, vem de muito longe esta vontade de querer vocês sempre, em tudo que faço. Em muitas, da vontade de abandonar tudo por vocês.
Às vezes também fico na dúvida se a recíproca é verdadeira, vocês me conhecem, não é besteira. E quando vocês não estão é uma viagem, porque fico pensando, de que maneira irei relatar os fatos, o tempo todo isto bolando. É o tipo de situação que temos que guardar pra si, não tem explicação, e a companhia não iria ter tanta compreensão.
Como deve ser difícil pra ela. Quantas vezes comprei situações para incluir vocês.
Quantas vezes as desavenças acontecem entre nós mesmos. Aí tenho que rebolar, caso a noite queira dançar.
E tem aqueles que estão longe, uns na quilometragem mesmo, outros tão próximos que ofusca a visão, talvez pela lembrança da emoção. E eu lá, incansável, sempre pedindo que continue, é claro no coração.
Sei que nem tudo é perfeito, e já rolou até desrespeito.
Parceria quase perfeita passa rapa geral e finaliza com trapes no peito.
Não tem melancolia, gera ciúmes, irrita meia dúzia e ciclicamente transborda, e como, sintonia.
Irmão(ã) mesmo nem precisa falar muito, o olhar espelha tudo no fim, e quando você ajuda solicita, na porta cravado, tem sempre um sim.
Viver sem vocês meus amigos, acho que conseguiria, difícil imaginar, certo de que o brilho não teria e prazer faltaria. Porque para cultivar um sentimento tão elegante só nós humanos, tão instáveis, tão constantes...
Nem sei se vem de instrução, se rola uma aquisição, se o preço é alto, ou acha num leilão, mas CARÁTER tem que ter e ponto!
Caso queira a carteirinha de irmão, esta é a única maneira, levante a bandeira, e tremule como principal preocupação. O curso é intensivo, tem garantia vitalícia de ser feliz, portanto tenha calma e seja humilde, eu também um dia fiz. Leva de cortesia à SAGRADA CARTILHA com epígrafe que diz: “Faz parte da vivência, ajuda sim a experiência, separar os que estarão presente na loucura da bala, e que Deus não me ouça, na desgraça da maca”.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Eu lhe proporciono o aninho do meu afago...
....que te afoga em suores ternos e tenros de mais uma noite sem mim.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Como é bom ser um louco sonhador.
E lembrar que há muito tempo, desde a infância, tudo era visivelmente estranho, e aquele mundo de regras era como o barato da droga, que cansei de escutar que era ruim, não prestava.
O bom da loucura é fazer o que se tem vontade, independente se na seguinte manhã ou tarde, por que louco mesmo não dorme a noite, você rir do que disseram que não podia ser feito, e você sempre faz.
Quer dizer, fazer coisas que não haviam nem imaginado, porque se não podia já sabiam, é diferente.
Mas pode, lembre-se, sempre pôde tudo.
É olhar dentro do olho deixando o próximo estatelado, porque a energia do louco é absurda, muda e curta.
Não confunda curta como limitante, digo: breve, persistente e sempre na mente.
E faça o que quiser, porque se você dança esquisito, se veste de uma maneira própria, fala de uma forma nova, sonha dentro dos sonhos, não importa.
O louco sempre acredita e não gagueja, por isto passa a ser natural, divertido e obviamente atraente.... Você sã, não tente e não enfrente.
Posso lhe adiantar, seria ridículo, um vexame.
Pelo simples fato de ser falso. Já o louco pode se achar o melhor, e daí, é louco mesmo.
E a maior de todas as loucuras é saber que o que ele pensar, torna-se realidade, imediatamente.
Apenas achar-se próspero pode resultar prosperidade? Leia mais sobre o tema, não encena, não se queima ou tenta, um louco sempre “guenta”.
Que virtude não ser e carregar sozinho este título, porque loucura, por exemplo, é dizer a vida inteira baboseiras e o menino se deliciar, na brisa do mar, ficar em choque de prazer e desespero por ter sido enganado por seus heróis, pais e país.
Quem sabe eu diga aos Meus que é loucura demais uma cerveja gelada com os amigos e com a minha família, que até devia ser condecorada por apenas ser o símbolo.
E que tem muitas outras situações que dão um prazer não descritivo, mas tudo tem sua hora, lugar e intensidade, e principalmente reação.
Reação da ação...
Acalme-se, loucura de berço muitas vezes não vem, portanto fique tranqüilo se não tem, e como papai diria: louco mesmo rasga nota é de cem.
Perceber que eu quero o mundo para agora, e lembrar daquele velho desenho onde abraçava-o, meu mundo.
Eu quero e prefiro viver na intensidade.
A rotina sempre me sufocou.
Eu quero uma paixão de verão sim, mesmo que não alcance as velhas folhas do outono.
Eu quero alguém que chegue cheio de loucuras novas, que me irrite por não ter pensado nesta antes.
Ah, como eu quero errar por ter arriscado, por ter enfrentado, e periodicamente obter o resultado.
No fim e resumidamente, o que um louco de pedigree quer mesmo é: Alguém tão presente que não se faça perceber.
Ou para rimar apenas: Alguém tão presente ao ponto de parecer ausente.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
The driftter - Rob Machado
Ja faz um tempo que foi lançado o filme The driftter do Rob Machado, mas não poderia deixar de dar meu comentario....e como diz o ditado: Antes tarde do que nunca.
A busca da onda perfeita é o clichê do surf nos dias de hoje, no filme, Rob Machado percorre as ilhas da Indonesia em busca deste ideal, a trilha sonora não deixa a desejar, com musicas de The Raconteurs,The Shins, Brett Dennen, entre outros. O filme que conta com direção do conceituado diretor Taylor Steele tem uma construção melodica, com uma fotografia fantastica.
O roteiro do filme foi baseado nas anotações do surfista durante as viagens. O filme ganhou o mundo do cinema e foi eleito o melhor filme do California Surf Film Festival, em 2009.
Rob Machado foi um surfista que encheu os olhos de uma gereção, com um surf rapido, fluido e com uma linha espetacular. Foi no caminho contrario de toda "evolução" qu o surf teve nos ultimos tempos. Enquanto os surfistas buscavam enquadrar seu surf no formato de julgamento, melhorando o ranking em busca de titulos, Rob quiz apenas surfar, da melhor maneira possivel.....se divertindo.
Tudo isso - junto a sua aura acessível - Machado é um dos atletas mais influentes do surf de todos os tempos. E já que ele continua escrevendo sua história incrível, é uma influência que só irá crescer ao longo do tempo.
Aprecie o video sem moderação - http://www.youtube.com/watch?v=QzEKWreXgp4
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Loucos e Santos
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril. ( Oscar Wilde )
Oscar Wilde foi um dramaturgo, escritor e poeta irlandês. Expoente da literatura inglesa durante o período vitoriano, sofreu enormes problemas por sua condição homossexual, sendo humilhado perante a sociedade. Foi preso com acusações de conduta homossexual e sentenciado a 2 anos de prisão com trabalhos forçados. As condições calamitosas da prisão causaram uma série de doenças e o levou às portas da morte. Foi declarada, ainda, sua falência. Morreu como um homem arruinado em 30 de novembro de 1900.
sábado, 6 de novembro de 2010
Céu e Inferno
CT em Porto Rico..... evento que sera mais lembrado pelo falecimento do ídolo havaiano ANDY IRONS, tem um momento de "alegria" gerado pelo decacampeonato mundial da besta mitologica KELLY SLATER.
O que você tem a me dizer de Mr. Kelly Slater?
R: Suponho que nada....
Você já conseguiu fazer algo importantíssimo por 10 vezes?
R: Pra fazer dez embaixadinhas ja é complicado, quem dirá ser 10 vezes campeão mundial do esporte que você pratica.... complicado hein!
Você conhece alguém que tenha tal feito no curriculo?
R: Não... em nenhum tipo de esporte.
Jogada de marketing ou destino?
R: Sem dúvida é uma jogada de marketing perfeita para a Quicksilver que deve aumentar em alguns milhões sua conta bancaria, deixar o decimo titulo mundial para 2010 realmente soa meio estranho...será que a ASP deu uma força? será que os juizes começaram o ano somente para julgar o decimo titulo do cara?
Indiferente se com ajuda externa ou não o decimo titulo é dele.....por merecimento e sem sombras de dúvidas com o surf que vem apresentando durante o ano.
O Pro Search ainda não terminou e ainda temos o ultimo evento que acontece em Pipeline-Hawaii, mas pra que? ja temos o campeão mundial! detentor de todos os tipos de recordes relacionados ao surf.
Jordy bem que tentou, até torci pra ele pra dar uma atrapalhada no careca pra levar a decisão pra ultima etapa do circuito.... mas por este breve momento esqueci que estavamos falando do mito: KELLY SLATER.
Apos todos estes acontecimento deixo minha eterna gratidão ao surf oferecido por K.S. ao mundo, por elevar o esporte a outro patamar, por ser um dos idealizadores do "Dream tour"....enfim...THANKS SLAT.
10 titulos = U$ 10.000.000,00..... Promessa é divida.
O que você tem a me dizer de Mr. Kelly Slater?
R: Suponho que nada....
Você já conseguiu fazer algo importantíssimo por 10 vezes?
R: Pra fazer dez embaixadinhas ja é complicado, quem dirá ser 10 vezes campeão mundial do esporte que você pratica.... complicado hein!
Você conhece alguém que tenha tal feito no curriculo?
R: Não... em nenhum tipo de esporte.
Jogada de marketing ou destino?
R: Sem dúvida é uma jogada de marketing perfeita para a Quicksilver que deve aumentar em alguns milhões sua conta bancaria, deixar o decimo titulo mundial para 2010 realmente soa meio estranho...será que a ASP deu uma força? será que os juizes começaram o ano somente para julgar o decimo titulo do cara?
Indiferente se com ajuda externa ou não o decimo titulo é dele.....por merecimento e sem sombras de dúvidas com o surf que vem apresentando durante o ano.
O Pro Search ainda não terminou e ainda temos o ultimo evento que acontece em Pipeline-Hawaii, mas pra que? ja temos o campeão mundial! detentor de todos os tipos de recordes relacionados ao surf.
Jordy bem que tentou, até torci pra ele pra dar uma atrapalhada no careca pra levar a decisão pra ultima etapa do circuito.... mas por este breve momento esqueci que estavamos falando do mito: KELLY SLATER.
Apos todos estes acontecimento deixo minha eterna gratidão ao surf oferecido por K.S. ao mundo, por elevar o esporte a outro patamar, por ser um dos idealizadores do "Dream tour"....enfim...THANKS SLAT.
10 titulos = U$ 10.000.000,00..... Promessa é divida.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Andy Irons - R.I.P
Na manhã desta quarta-feria (03/11/2010), tive uma noticia que pegou de surpresa o mundo do surf, a morte prematura e inesperada do Surfista Andy Irons, detentor de 3 titulos mundiais e protagonista de uma das maiores "rivalidades" do surf mundial nos ultimos tempos.
Com a morte de Andy Irons podemos levantar um assunto tão comentado em rodas de surfistas mundo a fora... sera que o surf ja pode ser comparado com outros esportes em crescimento, que almejam uma melhor premiação e contratos milionarios realizado em lugares paradisiacos e com ondas perfeitas, porem sem uma estrutura adequada que possa salvar a vida de um atleta.... sera que o surf esta no caminho certo? Oque o circo da ASP pensa sobre isso?
Segue abaixo um texto que pode resumir em poucas palavras o perfil deste grande atleta:
"Andy exemplificava a atitude do tudo ou nada. Ele tinha essa atitude a cada onda e a cada competição ao invés de entrar em pânico. Por trás, existiu uma agressividade competitiva que algumas vezes evaporava, mas que fez com que ele fosse constantemente dominante na água. Essa atitude e força mental que passaram por toda sua carreira o impulsionou para ganhar seus três cobiçados títulos de Campeão do Mundo ASP. Junto com os títulos, Irons foi nomeado Surfista do Ano pela Surfer Magazine de 2002 e 2003 no prêmio Surfer Poll, quebrando os nove anos de Kelly Slater na posse desse título. Em meio aos prêmios, troféus, títulos e reputação está o homem que possuia a chave do surfe competitivo na palma de suas mãos."
Admirado pelo seu power surf e criticado pela sua personalidade, A.I. deixa uma legião de fãs de forma prematura e inesperada.
A.I. - Rest In Peace.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Interagir com o mundo é direito de todos.
O conhecimento não é privação da elite, nem dela se baseia a nossa cultura.
A cultura é a arte mais pura da massa, e a maneira mais honesta de manifesto.
Conhecimento não se compra e aceitar a distribuição de livros como pirataria é o que considero violar a verdadeira essência do homem e sua infinita capacidade de pensar.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Palhaçada Eleitoral Gratuita
"Meus amigos e minhas amigas"
"Companheiros e companheiras"
Você assiste horário político ?
Já sabe quais são as propostas do seu candidato ?
Me fiz essa pergunta e não cheguei a conclusão alguma....
Ao invés de propostas (já sabemos que a maioria não chega a sair do papel) estamos presenciando um ataque verbal (e até físico) entre os dois candidatos, onde uma bolinha de papel vira um pedrada e notícia para a semana toda, ofuscando escândalos que não param de estourar em plena época de eleições.
Este ano (mais do que nunca), estamos para escolher um presidente, não pelas suas promessas de um país melhor muito menos pelo carisma contagiante de ambos os candidatos. Este ano nossa escolha é feita baseada em promessas não cumpridas, com eles lavando a roupa suja no horário de seu descanso, seu jornal, sua novela, ou seja lá o que for.
Com um programa digno de troféu imprensa com cenarios e atores espetaculares.
Pela primeira vez não vamos escolher o presidente mais competente, melhor capacitado e com algum tipo de projeto que nos faça acreditar que este pais possa melhorar. Este ano você vai escolher o candidato "MENOS PIOR".
Vote consciente....BOA SORTE!!!
sábado, 23 de outubro de 2010
As vezes parece poesia...
....mas é so mais um dia, interessante, importante, intenso, cheio e tambem distante. Pareço meio ausente inebriado de lembranças inconstantes.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Eu sou....
Eu sou a luz incandescente que se apaga para voce dormir.
Sou aquele que se mantem radiante, mesmo distante, em ceus escuros e noites frias.
Eu sou o fogo que arde a parte, a luz que lhe seduz e esmaece ao cair da tarde.
Eu sou supremo, mas sou sozinho a noite, quando fervilho mil idéias e nem posso pensar em te tocar.
Eu lhe proporciono o aninho do meu afago que te afoga em suores ternos e tenros de mais uma noite sem mim.
Embora eu saiba que estaremos sempre juntos.
Eu sou o sol, mas poderia também ser qualquer um.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
SWU - Business with you
Start with you ? Ok... Ok...
Woodstock ? Não; Não; Tal feito já não voltará mais.
Sim, na minha pessoal e sincera opinião, é que tal evento que está preste à acontecer, deveria se chamar "business with you".
Escutando e lendo críticas sobre o SWU, com uma dose de verdade e outra de vontade, tiro à minha conclusão, e é nada mais do que negócios. Não sei, a iniciativa de fazer esse festival, vendo em um contexto geral, é boa, porém a essência foi vendida pro "glamour", e pro seu primo "modismo".
Pois mesmo se eu pudesse e quisesse, pensaria mais antes de partir pra jornada.
Sim! Pensando mais eu embaso o alcool, os derivados da fumaça e a putaria, talvez por esses 3 fatores determinantes, eu me jogaria..........
De nada eu tenho certeza, e nem quero, mas quem faz o ambiente somos nos, então não esqueça de acender o cigarro do capeta, e brindar o que já foi verdadeiro e talvez o possível avivamento do único e perfeito woodstock.
Woodstock ? Não; Não; Tal feito já não voltará mais.
Sim, na minha pessoal e sincera opinião, é que tal evento que está preste à acontecer, deveria se chamar "business with you".
Escutando e lendo críticas sobre o SWU, com uma dose de verdade e outra de vontade, tiro à minha conclusão, e é nada mais do que negócios. Não sei, a iniciativa de fazer esse festival, vendo em um contexto geral, é boa, porém a essência foi vendida pro "glamour", e pro seu primo "modismo".
Pois mesmo se eu pudesse e quisesse, pensaria mais antes de partir pra jornada.
Sim! Pensando mais eu embaso o alcool, os derivados da fumaça e a putaria, talvez por esses 3 fatores determinantes, eu me jogaria..........
De nada eu tenho certeza, e nem quero, mas quem faz o ambiente somos nos, então não esqueça de acender o cigarro do capeta, e brindar o que já foi verdadeiro e talvez o possível avivamento do único e perfeito woodstock.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Thrill, Spills and What Not - Dane Reynolds
Inspirado em filmes de surfistas como Nathan Fletcher e Alex Knost, o surfista top do WT, Dane Reynolds finaliza seu novo filme intitulado de "Thrill, Spills and What Not".
O filme foi feito casualmento durante o ano passado e não tem o objetivo de mostrar um surf performance e sim o lado divertido do surf, como devemos aproveitar cada momento que estamos na agua sem se importar com as condições.
O filme ainda conta com a participação de sua namorada soltando a voz e mandando ver na bateria em algumas musicas do filme.
Finalmente, aqui está um trailer para se concentrar e matar nossa curiosidade.
Thrill, Spills and What Not - Trailler Oficial
Não é muito ... ou é?
So as vezes...
As vezes tudo parece vazio.
As vezes parece tão frio, mas é so interessante.
As vezes parece poesia, mas é so mais um dia, interessante, importante, intenso, cheio e tambem distante.
Pareço meio ausente inebriado de lembranças inconstantes.
Pareço sofrer se choro por você.
Mas agora estamos a sos.....so eu e.... eu pra nao esquecer de ser tão sobrio como este azul chapado e dizer que meu espaço é algo parecido com isto aqui.
Talves o ceu ou o pensamento romperam os sonhos.
Tudo esta bem agora, logo agora que encontrei você.
As vezes presto atenção nos amigos, presto atenção nos recados e sorrisos, mas quase sempre passo batido, como aquela vontade de deixar o tempo passar e saber que nos encontraremos algum dia quando o ceu e o sol forem mais que poesia, mas bem mais que o frio azul nostálgico, de um ano qualquer, de um caso qualquer, de uma praia qualquer, de uma paixão qualquer, que sequer se prestou a me deixar, fazendo das minhas lembranças algo bom para se viver.
Não tenho mais temp e va-la.... quantas vezes eu tenho que achar?
Alguma coisa, alguma coisa, alguma coisa esta fora do ar.
As vezes sinto falta de ti.
As vezes não to nem ai.
As vezes talves seja so um talves, mesmo que so estando do jeito que estou; so estou ficando, olhando, soriindo, cantando, baixando, cagando e andando, mas também usando e abusando do gerúndio, dos meus livros.
To gastando num lugar que não me diz nada, mas que valem boas risadas.
Foda-se se sou tarado ou se quero trabalho, sei que sou fora da lei, mas desenhar e cantar eu também sei.
Não sou poeta, escrevo letras, e faço musica pra me tocar, oqeu me toca é olhar um sonho que agora dorme, mas que logo pode acordar.
Shiiii.... Ta na hora de dormir.
Eu vou sim, mas volto já, estou sumido eu sei como é que é, mas quer saber?
Eu jamais sai daqui, e assim continuarei com você.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Bons conselhos....
Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser perfeito; relaxaria mais.
Seria mais tolo do que tenho sido; na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvetes e menos lentilhas, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto de sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabes, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se eu voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera, e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vida pela frente.
Mas vejam, tenho 27 anos e sei que estou morrendo...
sábado, 18 de setembro de 2010
V I V A M ! ! !
Estou com vontade de recomeçar a viver, cometendo os mesmos erros que sempre desejei e nunca tive coragem. Entretanto o panico que pode voltar a surgir, mas cuja presença apenas me dara cansaço, porque sei que não vou morrer ou desmaiar por causa dele. Posso arranjar novos amigos e ensina-los a serem loucos, para que sejam sabios, direi que não sigam o manual do bom comportamento, descubram suas proprias vidas, desejos, aventuras, e vivam!
Citarei eclesiastes para os catolicos, o corão para os islamicos, a torah para os judeos, os textos de aristoteles para os ateus. Por algum tempo da minha vida fiquei olhando o vento, me esqueci de semear, não desfrutei meus dias, nem sequer bebi o vinho que me era oferecido. Mas um dia me julguei pronto, e voltei ao meu trabalho. Contei aos homens minhas visões do paraiso, como Bosch, Van gogh, Da vinci, Beethoven, Einstein, e outros loucos fizeram antes de mim. Nunca mais quero ser advogado, mas posso usar minha experiencia para dar conferencia sobre homens e mulheres que conheceram a verdade dessa existencia, e cujos escritos possam ser resumidos em uma unica palavra: "VIVAM".
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Verdades sobre a maconha
Verdade sobre a maconha
Poucos assuntos dão margem a tanta mentira, tanta deturpação, tanta desinformação. Afinal, quais os verdadeiros motivos por trás da proibição da maconha? A droga faz mal ou não? E isso importa?
Denis Russo Burgierman / Alceu Nunes
Por que a maconha é proibida? Porque faz mal à saúde. Será mesmo? Então, por que o bacon não é proibido? Ou as anfetaminas? E, diga-se de passagem, nenhum mal sério à saúde foi comprovado para o uso esporádico de maconha. A guerra contra essa planta foi motivada muito mais por fatores raciais, econômicos, políticos e morais do que por argumentos científicos. E algumas dessas razões são inconfessáveis. Tem a ver com o preconceito contra árabes, chineses, mexicanos e negros, usuários freqüentes de maconha no começo do século XX. Deve muito aos interesses de indústrias poderosas dos anos 20, que vendiam tecidos sintéticos e papel e queriam se livrar de um concorrente, o cânhamo. Tem raízes também na bem-sucedida estratégia de dominação dos Estados Unidos sobre o planeta. E, é claro, guarda relação com o moralismo judaico-cristão (e principalmente protestante-puritano), que não aceita a idéia do prazer sem merecimento – pelo mesmo motivo, no passado, condenou-se a masturbação.
Não é fácil falar desse assunto – admito que levei um dia inteiro para compor o parágrafo acima. O tema é tão carregado de ideologia e as pessoas têm convicções tão profundas sobre ele que qualquer convite ao debate, qualquer insinuação de que estamos lidando mal com o problema já é interpretada como "apologia às drogas" e, portanto, punível com cadeia. O fato é que, apesar da desinformação dominante, sabe-se muito sobre a maconha. Ela é cultivada há milênios e centenas de pesquisas já foram feitas sobre o assunto. O que tentei fazer foi condensar nestas páginas o conhecimento que a humanidade reuniu sobre a droga nos milênios em que convive com ela.
Por que é proibido?
"O corpo esmagado da menina jazia espalhado na calçada um dia depois de mergulhar do quinto andar de um prédio de apartamentos em Chicago. Todos disseram que ela tinha se suicidado, mas, na verdade, foi homicídio. O assassino foi um narcótico conhecido na América como marijuana e na história como haxixe. Usado na forma de cigarros, ele é uma novidade nos Estados Unidos e é tão perigoso quanto uma cascavel." Começa assim a matéria "Marijuana: assassina de jovens", publicada em 1937 na revista American Magazine. A cena nunca aconteceu. O texto era assinado por um funcionário do governo chamado Harry Anslinger. Se a maconha, hoje, é ilegal em praticamente todo o mundo, não é exagero dizer que o maior responsável foi ele.
Nas primeiras décadas do século XX, a maconha era liberada, embora muita gente a visse com maus olhos. Aqui no Brasil, maconha era "coisa de negro", fumada nos terreiros de candomblé para facilitar a incorporação e nos confins do país por agricultores depois do trabalho. Na Europa, ela era associada aos imigrantes árabes e indianos e aos incômodos intelectuais boêmios. Nos Estados Unidos, quem fumava eram os cada vez mais numerosos mexicanos – meio milhão deles cruzaram o Rio Grande entre 1915 e 1930 em busca de trabalho. Muitos não acharam. Ou seja, em boa parte do Ocidente, fumar maconha era relegado a classes marginalizadas e visto com antipatia pela classe média branca.
Pouca gente sabia, entretanto, que a mesma planta que fornecia fumo às classes baixas tinha enorme importância econômica. Dezenas de remédios – de xaropes para tosse a pílulas para dormir – continham cannabis. Quase toda a produção de papel usava como matéria-prima a fibra do cânhamo, retirada do caule do pé de maconha. A indústria de tecidos também dependia da cannabis – o tecido de cânhamo era muito difundido, especialmente para fazer cordas, velas de barco, redes de pesca e outros produtos que exigissem um material muito resistente. A Ford estava desenvolvendo combustíveis e plásticos feitos a partir do óleo da semente de maconha. As plantações de cânhamo tomavam áreas imensas na Europa e nos Estados Unidos.
Em 1920, sob pressão de grupos religiosos protestantes, os Estados Unidos decretaram a proibição da produção e da comercialização de bebidas alcoólicas. Era a Lei Seca, que durou até 1933. Foi aí que Henry Anslinger surgiu na vida pública americana – reprimindo o tráfico de rum que vinha das Bahamas. Foi aí, também, que a maconha entrou na vida de muita gente – e não só dos mexicanos. "A proibição do álcool foi o estopim para o ‘boom’ da maconha", afirma o historiador inglês Richard Davenport-Hines, especialista na história dos narcóticos, em seu livro The Pursuit of Oblivion (A busca do esquecimento, ainda sem versão para o Brasil). "Na medida em que ficou mais difícil obter bebidas alcoólicas e elas ficaram mais caras e piores, pequenos cafés que vendiam maconha começaram a proliferar", escreveu.
Anslinger foi promovido a chefe da Divisão de Controle Estrangeiro do Comitê de Proibição e sua tarefa era cuidar do contrabando de bebidas. Foi nessa época que ele percebeu o clima de antipatia contra a maconha que tomava a nação. Clima esse que só piorou com a quebra da Bolsa, em 1929, que afundou a nação numa recessão. No sul do país, corria o boato de que a droga dava força sobre-humana aos mexicanos, o que seria uma vantagem injusta na disputa pelos escassos empregos. A isso se somavam insinuações de que a droga induzia ao sexo promíscuo (muitos mexicanos talvez tivessem mais parceiros que um americano puritano médio, mas isso não tem nada a ver com a maconha) e ao crime (com a crise, a criminalidade aumentou entre os mexicanos pobres, mas a maconha é inocente disso). Baseados nesses boatos, vários Estados começaram a proibir a substância. Nessa época, a maconha virou a droga de escolha dos músicos de jazz, que afirmavam ficar mais criativos depois de fumar.
Anslinger agarrou-se firme à bandeira proibicionista, batalhou para divulgar os mitos antimaconha e, em 1930, quando o governo, preocupado com a cocaína e o ópio, criou o FBN (Federal Bureau of Narcotics, um escritório nos moldes do FBI para lidar com drogas), ele articulou para chefiá-lo. De repente, de um cargo burocrático obscuro, Anslinger passou a ser o responsável pela política de drogas do país. E quanto mais substâncias fossem proibidas, mais poder ele teria.
Mas é improvável que a cruzada fosse motivada apenas pela sede de poder. Outros interesses devem ter pesado. Anslinger era casado com a sobrinha de Andrew Mellon, dono da gigante petrolífera Gulf Oil e um dos principais investidores da igualmente gigante Du Pont. "A Du Pont foi uma das maiores responsáveis por orquestrar a destruição da indústria do cânhamo", afirma o escritor Jack Herer, em seu livro The Emperor Wears No Clothes (O imperador está nu, ainda sem tradução). Nos anos 20, a empresa estava desenvolvendo vários produtos a partir do petróleo: aditivos para combustíveis, plásticos, fibras sintéticas como o náilon e processos químicos para a fabricação de papel feito de madeira. Esses produtos tinham uma coisa em comum: disputavam o mercado com o cânhamo.
Seria um empurrão considerável para a nascente indústria de sintéticos se as imensas lavouras de cannabis fossem destruídas, tirando a fibra do cânhamo e o óleo da semente do mercado. "A maconha foi proibida por interesses econômicos, especialmente para abrir o mercado das fibras naturais para o náilon", afirma o jurista Wálter Maierovitch, especialista em tráfico de entorpecentes e ex-secretário nacional antidrogas.
Anslinger tinha um aliado poderoso na guerra contra a maconha: William Randolph Hearst, dono de uma imensa rede de jornais. Hearst era a pessoa mais influente dos Estados Unidos. Milionário, comandava suas empresas de um castelo monumental na Califórnia, onde recebia artistas de Hollywood para passear pelo zoológico particular ou dar braçadas na piscina coberta adornada com estátuas gregas. Foi nele que Orson Welles se inspirou para criar o protagonista do filme Cidadão Kane. Hearst sabidamente odiava mexicanos. Parte desse ódio talvez se devesse ao fato de que, durante a Revolução Mexicana de 1910, as tropas de Pancho Villa (que, aliás, faziam uso freqüente de maconha) desapropriaram uma enorme propriedade sua. Sim, Hearst era dono de terras e as usava para plantar eucaliptos e outras árvores para produzir papel. Ou seja, ele também tinha interesse em que a maconha americana fosse destruída – levando com ela a indústria de papel de cânhamo.
Hearst iniciou, nos anos 30, uma intensa campanha contra a maconha. Seus jornais passaram a publicar seguidas matérias sobre a droga, às vezes afirmando que a maconha fazia os mexicanos estuprarem mulheres brancas, outras noticiando que 60% dos crimes eram cometidos sob efeito da droga (um número tirado sabe-se lá de onde). Nessa época, surgiu a história de que o fumo mata neurônios, um mito repetido até hoje. Foi Hearst que, se não inventou, ao menos popularizou o nome marijuana (ele queria uma palavra que soasse bem hispânica, para permitir a associação direta entre a droga e os mexicanos). Anslinger era presença constante nos jornais de Hearst, onde contava suas histórias de terror. A opinião pública ficou apavorada. Em 1937, Anslinger foi ao Congresso dizer que, sob o efeito da maconha, "algumas pessoas embarcam numa raiva delirante e cometem crimes violentos".
Os deputados votaram pela proibição do cultivo, da venda e do uso da cannabis, sem levar em conta as pesquisas que afirmavam que a substância era segura. Proibiu-se não apenas a droga, mas a planta. O homem simplesmente cassou o direito da espécie Cannabis sativa de existir.
Anslinger também atuou internacionalmente. Criou uma rede de espiões e passou a freqüentar as reuniões da Liga das Nações, antecessora da ONU, propondo tratados cada vez mais duros para reprimir o tráfico internacional. Também começou a encontrar líderes de vários países e a levar a eles os mesmos argumentos aterrorizantes que funcionaram com os americanos. Não foi difícil convencer os governos – já na década de 20 o Brasil adotava leis federais antimaconha. A Europa também embarcou na onda proibicionista.
"A proibição das drogas serve aos governos porque é uma forma de controle social das minorias", diz o cientista político Thiago Rodrigues, pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos. Funciona assim: maconha é coisa de mexicano, mexicanos são uma classe incômoda. "Como não é possível proibir alguém de ser mexicano, proíbe-se algo que seja típico dessa etnia", diz Thiago. Assim, é possível manter sob controle todos os mexicanos – eles estarão sempre ameaçados de cadeia. Por isso a proibição da maconha fez tanto sucesso no mundo. O governo brasileiro achou ótimo mais esse instrumento para manter os negros sob controle. Os europeus também adoraram poder enquadrar seus imigrantes.
A proibição foi virando uma forma de controle internacional por parte dos Estados Unidos, especialmente depois de 1961, quando uma convenção da ONU determinou que as drogas são ruins para a saúde e o bem-estar da humanidade e, portanto, eram necessárias ações coordenadas e universais para reprimir seu uso. "Isso abriu espaço para intervenções militares americanas", diz Maierovitch. "Virou um pretexto oportuno para que os americanos possam entrar em outros países e exercer os seus interesses econômicos."
Estava erguida uma estrutura mundial interessada em manter as drogas na ilegalidade, a maconha entre elas. Um ano depois, em 1962, o presidente John Kennedy demitiu Anslinger – depois de nada menos que 32 anos à frente do FBN. Um grupo formado para analisar os efeitos da droga concluiu que os riscos da maconha estavam sendo exagerados e que a tese de que ela levava a drogas mais pesadas era furada. Mas não veio a descriminalização. Pelo contrário. O presidente Richard Nixon endureceu mais a lei, declarou "guerra às drogas" e criou o DEA (em português, Escritório de Coação das Drogas), um órgão ainda mais poderoso que o FBN, porque, além de definir políticas, tem poder de polícia.
Maconha faz mal?
Taí uma pergunta que vem sendo feita faz tempo. Depois de mais de um século de pesquisas, a resposta mais honesta é: faz, mas muito pouco e só para casos extremos. O uso moderado não faz mal. A preocupação da ciência com esse assunto começou em 1894, quando a Índia fazia parte do Império Britânico. Havia, então, a desconfiança de que o bhang, uma bebida à base de maconha muito comum na Índia, causava demência. Grupos religiosos britânicos reivindicavam sua proibição. Formou-se a Comissão Indiana de Drogas da Cannabis, que passou dois anos investigando o tema. O relatório final desaconselhou a proibição: "O bhang é quase sempre inofensivo quando usado com moderação e, em alguns casos, é benéfico. O abuso do bhang é menos prejudicial que o abuso do álcool".
Em 1944, um dos mais populares prefeitos de Nova York, Fiorello La Guardia, encomendou outra pesquisa. Em meio à histeria antimaconha de Anslinger, La Guardia resolveu conferir quais os reais riscos da tal droga assassina. Os cientistas escolhidos por ele fizeram testes com presidiários (algo comum na época) e concluíram: "O uso prolongado da droga não leva à degeneração física, mental ou moral". O trabalho passou despercebido no meio da barulheira proibicionista de Anslinger.
A partir dos anos 60, várias pesquisas parecidas foram encomendadas por outros governos. Relatórios produzidos na Inglaterra, no Canadá e nos Estados Unidos aconselharam um afrouxamento nas leis. Nenhuma dessas pesquisas foi suficiente para forçar uma mudança. Mas a experiência mais reveladora sobre a maconha e suas conseqüências foi realizada fora do laboratório. Em 1976, a Holanda decidiu parar de prender usuários de maconha desde que eles comprassem a droga em cafés autorizados. Resultado: o índice de usuários continua comparável aos de outros países da Europa. O de jovens dependentes de heroína caiu – estima-se que, ao tirar a maconha da mão dos traficantes, os holandeses separaram essa droga das mais pesadas e, assim, dificultaram o acesso a elas.
Nos últimos anos, os possíveis males da maconha foram cuidadosamente escrutinados – às vezes por pesquisadores competentes, às vezes por gente mais interessada em convencer os outros da sua opinião.
Veja abaixo um resumo do que se sabe:
Câncer
Não se provou nenhuma relação direta entre fumar maconha e câncer de pulmão, traquéia, boca e outros associados ao cigarro. Isso não quer dizer que não haja. Por muito tempo, os riscos do cigarro foram negligenciados e só nas últimas duas décadas ficou claro que havia uma bomba-relógio armada – porque os danos só se manifestam depois de décadas de uso contínuo. Há o temor de que uma bomba semelhante esteja para explodir no caso da maconha, cujo uso se popularizou a partir dos anos 60. O que se sabe é que o cigarro de maconha tem praticamente a mesma composição de um cigarro comum – a única diferença significativa é o princípio ativo. No cigarro é a nicotina, na maconha o tetrahidrocanabinol, ou THC. Também é verdade que o fumante de maconha tem comportamentos mais arriscados que o de cigarro: traga mais profundamente, não usa filtro e segura a fumaça por mais tempo no pulmão (o que, aliás, segundo os cientistas, não aumenta os efeitos da droga).
Em compensação, boa parte dos maconheiros fuma muito menos e pára ou reduz o consumo depois dos 30 anos (parar cedo é sabidamente uma forma de diminuir drasticamente o risco de câncer). Em resumo: o usuário eventual de maconha, que é o mais comum, não precisa se preocupar com um aumento grande do risco de câncer. Quem fuma mais de um baseado por dia há mais de 15 anos deve pensar em parar.
Dependência
Algo entre 6% e 12% dos usuários, dependendo da pesquisa, desenvolve um uso compulsivo da maconha (menos que a metade das taxas para álcool e tabaco). A questão é: será que a maconha é a causa da dependência ou apenas uma válvula de escape. "Dependência de maconha não é problema da substância, mas da pessoa", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Escola Paulista de Medicina. Segundo Dartiu, há um perfil claro do dependente de maconha: em geral, ele é jovem, quase sempre ansioso e eventualmente depressivo. Pessoas que não se encaixam nisso não desenvolvem o vício. "E as que se encaixam podem tanto ficar dependentes de maconha quanto de sexo, de jogo, de internet", diz.
Muitos especialistas apontam para o fato de que a maconha está ficando mais perigosa – na medida em que fica mais potente. Ao longo dos últimos 40 anos, foi feito um melhoramento genético, cruzando plantas com alto teor de THC. Surgiram variedades como o skunk. No último ano, foram apreendidos carregamentos de maconha alterada geneticamente no Leste europeu – a engenharia genética é usada para aumentar a potência, o que poderia aumentar o potencial de dependência. Segundo o farmacólogo Leslie Iversen, autor do ótimo The Science of Marijuana (A ciência da maconha, sem tradução para o português) e consultor para esse tema da Câmara dos Lordes (o Senado inglês), esses temores são exagerados e o aumento da concentração de THC não foi tão grande assim.
Para além dessa discussão, o fato é que, para quem é dependente, maconha faz muito mal. Isso é especialmente verdade para crianças e adolescentes. "O sujeito com 15 anos não está com a personalidade formada. O uso exagerado de maconha pode ser muito danoso a ele", diz Dartiu. O maior risco para adolescentes que fumam maconha é a síndrome amotivacional, nome que se dá à completa perda de interesse que a droga causa em algumas pessoas. A síndrome amotivacional é muito mais freqüente em jovens e realmente atrapalha a vida – é quase certeza de bomba na escola e de crise na família.
Danos cerebrais
"Maconha mata neurônios." Essa frase, repetida há décadas, não passa de mito. Bilhões de dólares foram investidos para comprovar que o THC destrói tecido cerebral – às vezes com pesquisas que ministravam doses de elefante em ratinhos –, mas nada foi encontrado.
Muitas experiências foram feitas em busca de danos nas capacidades cognitivas do usuário de maconha. A maior preocupação é com a memória. Sabe-se que o usuário de maconha, quando fuma, fica com a memória de curto prazo prejudicada. São bem comuns os relatos de pessoas que têm idéias que parecem geniais durante o "barato", mas não conseguem lembrar-se de nada no momento seguinte. Isso acontece porque a memória de curto prazo funciona mal sob o efeito de maconha e, sem ela, as memórias de longo prazo não são fixadas (é por causa desse "desligamento" da memória que o usuário perde a noção do tempo). Mas esse dano não é permanente. Basta ficar sem fumar que tudo volta a funcionar normalmente. O mesmo vale para o raciocínio, que fica mais lento quando o usuário fuma muito freqüentemente.
Há pesquisas com usuários "pesados" e antigos, aqueles que fumam vários baseados por dia há mais de 15 anos, que mostraram que eles se saem um pouco pior em alguns testes, principalmente nos de memória e de atenção. As diferenças, no entanto, são sutis. Na comparação com o álcool, a maconha leva grande vantagem: beber muito provoca danos cerebrais irreparáveis e destrói a memória.
Coração
O uso de maconha dilata os vasos sangüíneos e, para compensar, acelera os batimentos cardíacos. Isso não oferece risco para a maioria dos usuários, mas a droga deve ser evitada por quem sofre do coração.
Infertilidade
Pesquisas mostraram que o usuário freqüente tem o número de espermatozóides reduzido. Ninguém conseguiu provar que isso possa causar infertilidade, muito menos impotência. Também está claro que os espermatozóides voltam ao normal quando se pára de fumar.
Depressão imunológica
Nos anos 70, descobriu-se que o THC afeta os glóbulos brancos, células de defesa do corpo. No entanto, nenhuma pesquisa encontrou relação entre o uso de maconha e a incidência de infecções.
Loucura
No passado, acreditava-se que maconha causava demência. Isso não se confirmou, mas sabe-se que a droga pode precipitar crises em quem já tem doenças psiquiátricas.
Gravidez
Algumas pesquisas apontaram uma tendência de filhos de mães que usaram muita maconha durante a gravidez de nascer com menor peso. Outras não confirmaram a suspeita. De qualquer maneira, é melhor evitar qualquer droga psicoativa durante a gestação. Sem dúvida, a mais perigosa delas é o álcool.
Maconha faz bem?
No geral, não. A maioria das pessoas não gosta dos efeitos e as afirmações de que a erva, por ser "natural", faz bem, não passam de besteira. Outros adoram e relatam que ela ajuda a aumentar a criatividade, a relaxar, a melhorar o humor, a diminuir a ansiedade. É inevitável: cada um é um.
O uso medicinal da maconha é tão antigo quanto a maconha. Hoje há muitas pesquisas com a cannabis para usá-la como remédio. Segundo o farmacólogo inglês Iversen, não há dúvidas de que ela seja um remédio útil para muitos e fundamental para alguns, mas há um certo exagero sobre seus potenciais. Em outras palavras: a maconha não é a salvação da humanidade. Um dos maiores desafios dos laboratórios é tentar separar o efeito medicinal da droga do efeito psicoativo – ou seja, criar uma maconha que não dê "barato". Muitos pesquisadores estão chegando à conclusão de que isso é impossível: aparentemente, as mesmas propriedades químicas que alteram a percepção do cérebro são responsáveis pelo caráter curativo. Esse fato é uma das limitações da maconha como medicamento, já que muitas pessoas não gostam do efeito mental. No Brasil, assim como em boa parte do mundo, o uso médico da cannabis é proibido e milhares de pessoas usam o remédio ilegalmente. Conheça alguns dos usos:
Câncer
Pessoas tratadas com quimioterapia muitas vezes têm enjôos terríveis, eventualmente tão terríveis que elas preferem a doença ao remédio. Há medicamentos para reduzir esse enjôo e eles são eficientes. No entanto, alguns pacientes não respondem a nenhum remédio legal e respondem maravilhosamente à maconha. Era o caso do brilhante escritor e paleontólogo Stephen Jay Gould, que, no mês passado, finalmente, perdeu uma batalha de 20 anos contra o câncer (veja mais sobre ele na página 23). Gould nunca tinha usado drogas psicoativas – ele detestava a idéia de que interferissem no funcionamento do cérebro. Veja o que ele disse: "A maconha funcionou como uma mágica. Eu não gostava do ‘efeito colateral’ que era o borrão mental. Mas a alegria cristalina de não ter náusea – e de não experimentar o pavor nos dias que antecediam o tratamento – foi o maior incentivo em todos os meus anos de quimioterapia".
Aids
Maconha dá fome. Qualquer um que fuma sabe disso (aliás, esse é um de seus inconvenientes: ela engorda). Nenhum remédio é tão eficiente para restaurar o peso de portadores do HIV quanto a maconha. E isso pode prolongar muito a vida: acredita-se que manter o peso seja o principal requisito para que um soropositivo não desenvolva a doença. O problema: a cannabis tem uma ação ainda pouco compreendida no sistema imunológico. Sabe-se que isso não representa perigo para pessoas saudáveis, mas pode ser um risco para doentes de Aids.
Esclerose múltipla
Essa doença degenerativa do sistema nervoso é terrivelmente incômoda e fatal. Os doentes sentem fortes espasmos musculares, muita dor e suas bexigas e intestinos funcionam muito mal. Acredita-se que ela seja causada por uma má função do sistema imunológico, que faz com que as células de defesa ataquem os neurônios. A maconha alivia todos os sintomas. Ninguém entende bem por que ela é tão eficiente, mas especula-se que tenha a ver com seu pouco compreendido efeito no sistema imunológico.
Dor
A cannabis é um analgésico usado em várias ocasiões. Os relatos de alívio das cólicas menstruais são os mais promissores.
Glaucoma
Essa doença caracteriza-se pelo aumento da pressão do líquido dentro do olho e pode levar à cegueira. Maconha baixa a pressão intraocular. O problema é que, para ser um remédio eficiente, a pessoa tem que fumar a cada três ou quatro horas, o que não é prático e, com certeza, é nocivo (essa dose de maconha deixaria o paciente eternamente "chapado"). Há estudos promissores com colírios feitos à base de maconha, que agiriam diretamente no olho, sem afetar o cérebro.
Ansiedade
Maconha é um remédio leve e pouco agressivo contra a ansiedade. Isso, no entanto, depende do paciente. Algumas pessoas melhoram após fumar; outras, principalmente as pouco habituadas à droga, têm o efeito oposto. Também há relatos de sucesso no tratamento de depressão e insônia, casos em que os remédios disponíveis no mercado, embora sejam mais eficientes, são também bem mais agressivos e têm maior potencial de dependência.
Dependência
Dois psiquiatras brasileiros, Dartiu Xavier e Eliseu Labigalini, fizeram uma experiência interessante. Incentivaram dependentes de crack a fumar maconha no processo de largar o vício. Resultado: 68% deles abandonaram o crack e, depois, pararam espontaneamente com a maconha, um índice altíssimo. Segundo eles, a maconha é um remédio feito sob medida para combater a dependência de crack e cocaína, porque estimula o apetite e combate a ansiedade, dois problemas sérios para cocainômanos. Dartiu e Eliseu pretendem continuar as pesquisas, mas estão com problemas para conseguir financiamento – dificilmente um órgão público investirá num trabalho que aposte nos benefícios da maconha.
O passado
O primeiro registro do contato entre o Homo sapiens e a Cannabis sativa é de 6 000 anos atrás. Trata-se da marca de uma corda de cânhamo impressa em cacos de barro, na China. O emprego da fibra, não só em cordas mas também em vários tecidos e, depois, na fabricação de papel, é um dos mais antigos usos da maconha. Graças a ele, a planta, original da região ao norte do Afeganistão, nos pés do Himalaia, tornou-se a primeira cultivada pelo homem com usos não alimentícios e espalhou-se por toda a Ásia e depois pela Europa e África.
Mas há um uso da maconha que pode ser tão antigo quanto o da fibra do cânhamo: o medicinal. Os chineses conhecem há pelo menos 2 000 anos o poder curativo da droga, como prova o Pen-Ts’ao Ching, considerado a primeira farmacopéia conhecida do mundo (farmacopéia é um livro que reúne fórmulas e receitas de medicamentos). O livro recomenda o uso da maconha contra prisão-de-ventre, malária, reumatismo e dores menstruais. Também na Índia, a erva já há milênios é parte integral da medicina ayurvédica, usada no tratamento de dezenas de doenças. Sem falar que ela ocupa um lugar de destaque na religião hindu. Pela mitologia, maconha era a comida favorita do deus Shiva, que, por isso, viveria o tempo todo "chapado". Tomar bhang seria uma forma de entrar em comunhão com Shiva.
O Hinduísmo não é a única religião a dar destaque para a cannabis. Para os budistas da tradição Mahayana, Buda passou seis anos comendo apenas uma semente de maconha por dia. Sua iluminação teria sido atingida após esse período de quase-jejum. Da Índia, a maconha migrou para a Mesopotâmia, ainda em tempos pré-cristãos, e de lá para o Oriente Médio. Portanto, ela já estava presente na região quando começou a expansão do Império Árabe. Com a proibição do álcool entre o povo de Maomé, iniciou-se uma acalorada discussão sobre se a maconha deveria ser banida também. Por séculos, consumiu-se cannabis abundantemente nas terras muçulmanas até que, na Idade Média, muitos islâmicos abandonaram o hábito. A exceção foram os sufi, membros de uma corrente considerada mais mística e esotérica do Islã, que, até bem recentemente, consideravam a cannabis fundamental em seus ritos.
Os gregos usaram velas e cordas de cânhamo nos seus navios, assim como, depois, os romanos. Sabe-se que o Império Romano tinha pelo menos conhecimento dos poderes psicoativos da maconha. O historiador latino Tácito, que viveu no século I d.C., relata que os citas, um povo da atual Turquia, tinham o costume de armar uma tenda, acender uma fogueira e queimar grande quantidade de maconha. Daí ficavam lá dentro, numa versão psicodélica do banho turco.
Graças ao contato com os árabes, grande parte da África conheceu a erva e incorporou-a aos seus ritos e à sua medicina – dos países muçulmanos acima do Saara até os zulus da África do Sul. A Europa toda também passou a plantar maconha e usava extensivamente a fibra do cânhamo, mas há raríssimos registros do seu uso como psicoativo naquele continente. Pode ser que isso se deva ao clima. O THC é uma resina produzida pela planta para proteger suas folhas e flores do sol forte. Na fria Europa, é possível que tenha se desenvolvido uma variação da Cannabis sativa com menos THC, já que não havia tanto sol para ameaçar o arbusto.
O fato é que, na Renascença, a maconha se transformou no principal produto agrícola da Europa. E sua importância não foi só econômica: a planta teve uma grande participação na mudança de mentalidade que ocorreu no século XV. Os primeiros livros depois da revolução de Gutemberg foram impressos em papel de cânhamo. As pinturas dos gênios da arte eram feitas em telas de cânhamo (canvas, a palavra usada em várias línguas para designar "tela", é uma corruptela holandesa do latim cannabis). E as grandes navegações foram impulsionadas por velas de cânhamo – segundo o autor americano Rowan Robinson, autor de O Grande Livro da Cannabis, havia 80 toneladas de cânhamo, contando o velame e as cordas, no barco comandado por Cristóvão Colombo em 1496. Ou seja, a América foi descoberta graças à maconha. Irônico.
Sobre as luzes da Renascença caíram as sombras da Inquisição – um período em que a Igreja ganhou muita força e passou a exercer o papel de polícia, julgando hereges em seu tribunal e condenando bruxas à fogueira. "As bruxas nada mais eram do que as curandeiras tradicionais, principalmente as de origem celta, que utilizavam plantas para tratar as pessoas, às vezes plantas com poderes psicoativos", diz o historiador Henrique Carneiro, especialista em drogas da Universidade Federal de Ouro Preto. Não há registros de que maconheiros tenham sido queimados no século XVI – inclusive porque o uso psicoativo da maconha era incomum na Europa –, mas é certo que cristalizou-se naquela época uma antipatia cristã por plantas que alteram o estado de consciência. "O Cristianismo afirmou seu caráter de religião imperial e, sob seus domínios, a única droga permitida é o álcool, associado com o sangue de Cristo", diz Henrique.
Em 1798, as tropas de Napoleão conquistaram o Egito. Até hoje não estão muito claras as razões pelas quais o imperador francês se aventurou no norte da África (vaidade, talvez). Mas pode ser que o principal motivo fosse a intenção de destruir as plantações de maconha, que abasteciam de cânhamo a poderosa Marinha da Inglaterra. O fato é que coube a Napoleão promulgar a primeira lei do mundo moderno proibindo a maconha. Os egípcios eram fumantes de haxixe, a resina extraída da folha e da flor da maconha constituída de THC concentrado. Mas a proibição saiu pela culatra. Os egípcios ignoraram a lei e continuaram fumando como sempre fizeram. Em compensação, os europeus ouviram falar da droga e ela rapidamente virou moda na Europa, principalmente entre os intelectuais. "O haxixe está substituindo o champagne", disse o escritor Théophile Gautier em 1845, depois da conquista da Argélia, que, na época, era outro grande consumidor de THC.
No Brasil, a planta chegou cedo, talvez ainda no século XVI, trazida pelos escravos (o nome "maconha" vem do idioma quimbundo, de Angola. Mas, até o século XIX, era mais usual chamar a erva de fumo-de-angola ou de diamba, nome também quimbundo). Por séculos, a droga foi tolerada no país, provavelmente fumada em rituais de candomblé (teria sido o presidente Getúlio Vargas que negociou a retirada da maconha dos terreiros, em troca da legalização da religião). Em 1830, o Brasil fez sua primeira lei restringindo a planta. A Câmara Municipal do Rio de Janeiro tornou ilegal a venda e o uso da droga na cidade e determinou que "os contraventores serão multados, a saber: o vendedor em 20 000 réis, e os escravos e demais pessoas, que dele usarem, em três dias de cadeia." Note que, naquela primeira lei proibicionista, a pena para o uso era mais rigorosa que a do traficante. Há uma razão para isso. Ao contrário do que acontece hoje, o vendedor vinha da classe média branca e o usuário era quase sempre negro e escravo.
O presente
Segundo dados da ONU, 147 milhões de pessoas fumam maconha no mundo, o que faz dela a terceira droga psicoativa mais consumida do mundo, depois do tabaco e do álcool. A droga é proibida em boa parte do mundo, mas, desde que a Holanda começou a tolerá-la, na década de 70, alguns outros países europeus seguiram os passos da descriminalização. Itália e Espanha há tempos aceitam pequenas quantidades da erva – embora a Espanha esteja abandonando a posição branda e haja projetos de lei, na Itália, no mesmo sentido. O Reino Unido acabou de anunciar que descriminalizou o uso da maconha – a partir do ano que vem, a droga será apreendida e o portador receberá apenas uma advertência verbal. Os ingleses esperam, assim, poder concentrar seus esforços na repressão de drogas mais pesadas.
No ano passado, Portugal endureceu as penas para o tráfico, mas descriminalizou o usuário de qualquer droga, desde que ele seja encontrado com quantidades pequenas. Porte de drogas virou uma infração administrativa, como parar em lugar proibido.
Nos últimos anos, os Estados Unidos também mudaram sua forma de lidar com as drogas. Dentro da tendência mundial de ver a questão mais como um problema de saúde do que criminal, o país, em vez de botar na cadeia, obriga o usuário a se tratar numa clínica para dependentes. "Essa idéia é completamente equivocada", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, refletindo a opinião de muitos especialistas. "Primeiro porque nem todo usuário é dependente. Segundo, porque um tratamento não funciona se é compulsório – a pessoa tem que querer parar", diz. No sistema americano, quem recusa o tratamento ou o abandona vai para a cadeia. Portanto, não é uma descriminalização. "Chamo esse sistema de ‘solidariedade autoritária’", diz o jurista Maierovitch. O Brasil planeja adotar o mesmo modelo.
O futuro
Há possibilidades de uma mudança no tratamento à maconha? "No Brasil, não é fácil", diz Maierovitch, que, enquanto era secretário nacional antidrogas do governo de Fernando Henrique Cardoso, planejou a descriminalização. "A lei hoje em vigor em Portugal foi feita em conjunto conosco, com o apoio do presidente", afirma. A idéia é que ela fosse colocada em prática ao mesmo tempo nos dois países. Segundo Maierovitch, Fernando Henrique mudou de idéia depois. O jurista afirma que há uma enorme influência americana na política de drogas brasileira. O fato é que essa questão mais tira do que dá votos e assusta os políticos – e não só aqui no Brasil. O deputado federal Fernando Gabeira, hoje no Partido dos Trabalhadores, é um dos poucos identificados com a causa da descriminalização. "Pretendo, como um primeiro passo, tentar a legalização da maconha para uso médico", diz. Mas suas idéias estão longe de ser unanimidade mesmo dentro do seu partido.
No remoto caso de uma legalização da compra e da venda, haveria dois modelos possíveis. Um seria o monopólio estatal, com o governo plantando e fornecendo as drogas, para permitir um controle maior. A outra possibilidade seria o governo estabelecer as regras (composição química exigida, proibição para menores de idade, proibição para fumar e dirigir), cobrar impostos (que seriam altíssimos, inclusive para evitar que o preço caia muito com o fim do tráfico ilegal) e a iniciativa privada assumir o lucrativo negócio. Não há no horizonte nenhum sinal de que isso esteja para acontecer. Mas a Super apurou, em consulta ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, que a Souza Cruz registrou, em 1997, a marca Marley – fica para o leitor imaginar que produto a empresa de tabaco pretende comercializar com o nome do ídolo do reggae.
A popularidade da maconha explodiu em 1920, quando o álcool foi proibido
O consumo moderado de maconha não provoca nenhum dano sério à saúde
Das cordas às velas, havia 80 toneladas de cânhamo no navio de Colombo
Na livraria
O Grande Livro da Cannabis, Rowan Robinson, Jorge Zahar, 1999
A Maconha, Fernando Gabeira, Publifolha, 2000
Diamba Sarabamba, Anthony Henman e Osvaldo Pessoa Jr. (organizações), Ground, 1986
Plantas de los Dioses, Richard Evans Schultes e Albert Hofmann, Fondo de Cultura Económica, México, 1982
Amores e Sonhos da Flora, Henrrique Carneiro, Xamã, 2002
Poucos assuntos dão margem a tanta mentira, tanta deturpação, tanta desinformação. Afinal, quais os verdadeiros motivos por trás da proibição da maconha? A droga faz mal ou não? E isso importa?
Denis Russo Burgierman / Alceu Nunes
Por que a maconha é proibida? Porque faz mal à saúde. Será mesmo? Então, por que o bacon não é proibido? Ou as anfetaminas? E, diga-se de passagem, nenhum mal sério à saúde foi comprovado para o uso esporádico de maconha. A guerra contra essa planta foi motivada muito mais por fatores raciais, econômicos, políticos e morais do que por argumentos científicos. E algumas dessas razões são inconfessáveis. Tem a ver com o preconceito contra árabes, chineses, mexicanos e negros, usuários freqüentes de maconha no começo do século XX. Deve muito aos interesses de indústrias poderosas dos anos 20, que vendiam tecidos sintéticos e papel e queriam se livrar de um concorrente, o cânhamo. Tem raízes também na bem-sucedida estratégia de dominação dos Estados Unidos sobre o planeta. E, é claro, guarda relação com o moralismo judaico-cristão (e principalmente protestante-puritano), que não aceita a idéia do prazer sem merecimento – pelo mesmo motivo, no passado, condenou-se a masturbação.
Não é fácil falar desse assunto – admito que levei um dia inteiro para compor o parágrafo acima. O tema é tão carregado de ideologia e as pessoas têm convicções tão profundas sobre ele que qualquer convite ao debate, qualquer insinuação de que estamos lidando mal com o problema já é interpretada como "apologia às drogas" e, portanto, punível com cadeia. O fato é que, apesar da desinformação dominante, sabe-se muito sobre a maconha. Ela é cultivada há milênios e centenas de pesquisas já foram feitas sobre o assunto. O que tentei fazer foi condensar nestas páginas o conhecimento que a humanidade reuniu sobre a droga nos milênios em que convive com ela.
Por que é proibido?
"O corpo esmagado da menina jazia espalhado na calçada um dia depois de mergulhar do quinto andar de um prédio de apartamentos em Chicago. Todos disseram que ela tinha se suicidado, mas, na verdade, foi homicídio. O assassino foi um narcótico conhecido na América como marijuana e na história como haxixe. Usado na forma de cigarros, ele é uma novidade nos Estados Unidos e é tão perigoso quanto uma cascavel." Começa assim a matéria "Marijuana: assassina de jovens", publicada em 1937 na revista American Magazine. A cena nunca aconteceu. O texto era assinado por um funcionário do governo chamado Harry Anslinger. Se a maconha, hoje, é ilegal em praticamente todo o mundo, não é exagero dizer que o maior responsável foi ele.
Nas primeiras décadas do século XX, a maconha era liberada, embora muita gente a visse com maus olhos. Aqui no Brasil, maconha era "coisa de negro", fumada nos terreiros de candomblé para facilitar a incorporação e nos confins do país por agricultores depois do trabalho. Na Europa, ela era associada aos imigrantes árabes e indianos e aos incômodos intelectuais boêmios. Nos Estados Unidos, quem fumava eram os cada vez mais numerosos mexicanos – meio milhão deles cruzaram o Rio Grande entre 1915 e 1930 em busca de trabalho. Muitos não acharam. Ou seja, em boa parte do Ocidente, fumar maconha era relegado a classes marginalizadas e visto com antipatia pela classe média branca.
Pouca gente sabia, entretanto, que a mesma planta que fornecia fumo às classes baixas tinha enorme importância econômica. Dezenas de remédios – de xaropes para tosse a pílulas para dormir – continham cannabis. Quase toda a produção de papel usava como matéria-prima a fibra do cânhamo, retirada do caule do pé de maconha. A indústria de tecidos também dependia da cannabis – o tecido de cânhamo era muito difundido, especialmente para fazer cordas, velas de barco, redes de pesca e outros produtos que exigissem um material muito resistente. A Ford estava desenvolvendo combustíveis e plásticos feitos a partir do óleo da semente de maconha. As plantações de cânhamo tomavam áreas imensas na Europa e nos Estados Unidos.
Em 1920, sob pressão de grupos religiosos protestantes, os Estados Unidos decretaram a proibição da produção e da comercialização de bebidas alcoólicas. Era a Lei Seca, que durou até 1933. Foi aí que Henry Anslinger surgiu na vida pública americana – reprimindo o tráfico de rum que vinha das Bahamas. Foi aí, também, que a maconha entrou na vida de muita gente – e não só dos mexicanos. "A proibição do álcool foi o estopim para o ‘boom’ da maconha", afirma o historiador inglês Richard Davenport-Hines, especialista na história dos narcóticos, em seu livro The Pursuit of Oblivion (A busca do esquecimento, ainda sem versão para o Brasil). "Na medida em que ficou mais difícil obter bebidas alcoólicas e elas ficaram mais caras e piores, pequenos cafés que vendiam maconha começaram a proliferar", escreveu.
Anslinger foi promovido a chefe da Divisão de Controle Estrangeiro do Comitê de Proibição e sua tarefa era cuidar do contrabando de bebidas. Foi nessa época que ele percebeu o clima de antipatia contra a maconha que tomava a nação. Clima esse que só piorou com a quebra da Bolsa, em 1929, que afundou a nação numa recessão. No sul do país, corria o boato de que a droga dava força sobre-humana aos mexicanos, o que seria uma vantagem injusta na disputa pelos escassos empregos. A isso se somavam insinuações de que a droga induzia ao sexo promíscuo (muitos mexicanos talvez tivessem mais parceiros que um americano puritano médio, mas isso não tem nada a ver com a maconha) e ao crime (com a crise, a criminalidade aumentou entre os mexicanos pobres, mas a maconha é inocente disso). Baseados nesses boatos, vários Estados começaram a proibir a substância. Nessa época, a maconha virou a droga de escolha dos músicos de jazz, que afirmavam ficar mais criativos depois de fumar.
Anslinger agarrou-se firme à bandeira proibicionista, batalhou para divulgar os mitos antimaconha e, em 1930, quando o governo, preocupado com a cocaína e o ópio, criou o FBN (Federal Bureau of Narcotics, um escritório nos moldes do FBI para lidar com drogas), ele articulou para chefiá-lo. De repente, de um cargo burocrático obscuro, Anslinger passou a ser o responsável pela política de drogas do país. E quanto mais substâncias fossem proibidas, mais poder ele teria.
Mas é improvável que a cruzada fosse motivada apenas pela sede de poder. Outros interesses devem ter pesado. Anslinger era casado com a sobrinha de Andrew Mellon, dono da gigante petrolífera Gulf Oil e um dos principais investidores da igualmente gigante Du Pont. "A Du Pont foi uma das maiores responsáveis por orquestrar a destruição da indústria do cânhamo", afirma o escritor Jack Herer, em seu livro The Emperor Wears No Clothes (O imperador está nu, ainda sem tradução). Nos anos 20, a empresa estava desenvolvendo vários produtos a partir do petróleo: aditivos para combustíveis, plásticos, fibras sintéticas como o náilon e processos químicos para a fabricação de papel feito de madeira. Esses produtos tinham uma coisa em comum: disputavam o mercado com o cânhamo.
Seria um empurrão considerável para a nascente indústria de sintéticos se as imensas lavouras de cannabis fossem destruídas, tirando a fibra do cânhamo e o óleo da semente do mercado. "A maconha foi proibida por interesses econômicos, especialmente para abrir o mercado das fibras naturais para o náilon", afirma o jurista Wálter Maierovitch, especialista em tráfico de entorpecentes e ex-secretário nacional antidrogas.
Anslinger tinha um aliado poderoso na guerra contra a maconha: William Randolph Hearst, dono de uma imensa rede de jornais. Hearst era a pessoa mais influente dos Estados Unidos. Milionário, comandava suas empresas de um castelo monumental na Califórnia, onde recebia artistas de Hollywood para passear pelo zoológico particular ou dar braçadas na piscina coberta adornada com estátuas gregas. Foi nele que Orson Welles se inspirou para criar o protagonista do filme Cidadão Kane. Hearst sabidamente odiava mexicanos. Parte desse ódio talvez se devesse ao fato de que, durante a Revolução Mexicana de 1910, as tropas de Pancho Villa (que, aliás, faziam uso freqüente de maconha) desapropriaram uma enorme propriedade sua. Sim, Hearst era dono de terras e as usava para plantar eucaliptos e outras árvores para produzir papel. Ou seja, ele também tinha interesse em que a maconha americana fosse destruída – levando com ela a indústria de papel de cânhamo.
Hearst iniciou, nos anos 30, uma intensa campanha contra a maconha. Seus jornais passaram a publicar seguidas matérias sobre a droga, às vezes afirmando que a maconha fazia os mexicanos estuprarem mulheres brancas, outras noticiando que 60% dos crimes eram cometidos sob efeito da droga (um número tirado sabe-se lá de onde). Nessa época, surgiu a história de que o fumo mata neurônios, um mito repetido até hoje. Foi Hearst que, se não inventou, ao menos popularizou o nome marijuana (ele queria uma palavra que soasse bem hispânica, para permitir a associação direta entre a droga e os mexicanos). Anslinger era presença constante nos jornais de Hearst, onde contava suas histórias de terror. A opinião pública ficou apavorada. Em 1937, Anslinger foi ao Congresso dizer que, sob o efeito da maconha, "algumas pessoas embarcam numa raiva delirante e cometem crimes violentos".
Os deputados votaram pela proibição do cultivo, da venda e do uso da cannabis, sem levar em conta as pesquisas que afirmavam que a substância era segura. Proibiu-se não apenas a droga, mas a planta. O homem simplesmente cassou o direito da espécie Cannabis sativa de existir.
Anslinger também atuou internacionalmente. Criou uma rede de espiões e passou a freqüentar as reuniões da Liga das Nações, antecessora da ONU, propondo tratados cada vez mais duros para reprimir o tráfico internacional. Também começou a encontrar líderes de vários países e a levar a eles os mesmos argumentos aterrorizantes que funcionaram com os americanos. Não foi difícil convencer os governos – já na década de 20 o Brasil adotava leis federais antimaconha. A Europa também embarcou na onda proibicionista.
"A proibição das drogas serve aos governos porque é uma forma de controle social das minorias", diz o cientista político Thiago Rodrigues, pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos. Funciona assim: maconha é coisa de mexicano, mexicanos são uma classe incômoda. "Como não é possível proibir alguém de ser mexicano, proíbe-se algo que seja típico dessa etnia", diz Thiago. Assim, é possível manter sob controle todos os mexicanos – eles estarão sempre ameaçados de cadeia. Por isso a proibição da maconha fez tanto sucesso no mundo. O governo brasileiro achou ótimo mais esse instrumento para manter os negros sob controle. Os europeus também adoraram poder enquadrar seus imigrantes.
A proibição foi virando uma forma de controle internacional por parte dos Estados Unidos, especialmente depois de 1961, quando uma convenção da ONU determinou que as drogas são ruins para a saúde e o bem-estar da humanidade e, portanto, eram necessárias ações coordenadas e universais para reprimir seu uso. "Isso abriu espaço para intervenções militares americanas", diz Maierovitch. "Virou um pretexto oportuno para que os americanos possam entrar em outros países e exercer os seus interesses econômicos."
Estava erguida uma estrutura mundial interessada em manter as drogas na ilegalidade, a maconha entre elas. Um ano depois, em 1962, o presidente John Kennedy demitiu Anslinger – depois de nada menos que 32 anos à frente do FBN. Um grupo formado para analisar os efeitos da droga concluiu que os riscos da maconha estavam sendo exagerados e que a tese de que ela levava a drogas mais pesadas era furada. Mas não veio a descriminalização. Pelo contrário. O presidente Richard Nixon endureceu mais a lei, declarou "guerra às drogas" e criou o DEA (em português, Escritório de Coação das Drogas), um órgão ainda mais poderoso que o FBN, porque, além de definir políticas, tem poder de polícia.
Maconha faz mal?
Taí uma pergunta que vem sendo feita faz tempo. Depois de mais de um século de pesquisas, a resposta mais honesta é: faz, mas muito pouco e só para casos extremos. O uso moderado não faz mal. A preocupação da ciência com esse assunto começou em 1894, quando a Índia fazia parte do Império Britânico. Havia, então, a desconfiança de que o bhang, uma bebida à base de maconha muito comum na Índia, causava demência. Grupos religiosos britânicos reivindicavam sua proibição. Formou-se a Comissão Indiana de Drogas da Cannabis, que passou dois anos investigando o tema. O relatório final desaconselhou a proibição: "O bhang é quase sempre inofensivo quando usado com moderação e, em alguns casos, é benéfico. O abuso do bhang é menos prejudicial que o abuso do álcool".
Em 1944, um dos mais populares prefeitos de Nova York, Fiorello La Guardia, encomendou outra pesquisa. Em meio à histeria antimaconha de Anslinger, La Guardia resolveu conferir quais os reais riscos da tal droga assassina. Os cientistas escolhidos por ele fizeram testes com presidiários (algo comum na época) e concluíram: "O uso prolongado da droga não leva à degeneração física, mental ou moral". O trabalho passou despercebido no meio da barulheira proibicionista de Anslinger.
A partir dos anos 60, várias pesquisas parecidas foram encomendadas por outros governos. Relatórios produzidos na Inglaterra, no Canadá e nos Estados Unidos aconselharam um afrouxamento nas leis. Nenhuma dessas pesquisas foi suficiente para forçar uma mudança. Mas a experiência mais reveladora sobre a maconha e suas conseqüências foi realizada fora do laboratório. Em 1976, a Holanda decidiu parar de prender usuários de maconha desde que eles comprassem a droga em cafés autorizados. Resultado: o índice de usuários continua comparável aos de outros países da Europa. O de jovens dependentes de heroína caiu – estima-se que, ao tirar a maconha da mão dos traficantes, os holandeses separaram essa droga das mais pesadas e, assim, dificultaram o acesso a elas.
Nos últimos anos, os possíveis males da maconha foram cuidadosamente escrutinados – às vezes por pesquisadores competentes, às vezes por gente mais interessada em convencer os outros da sua opinião.
Veja abaixo um resumo do que se sabe:
Câncer
Não se provou nenhuma relação direta entre fumar maconha e câncer de pulmão, traquéia, boca e outros associados ao cigarro. Isso não quer dizer que não haja. Por muito tempo, os riscos do cigarro foram negligenciados e só nas últimas duas décadas ficou claro que havia uma bomba-relógio armada – porque os danos só se manifestam depois de décadas de uso contínuo. Há o temor de que uma bomba semelhante esteja para explodir no caso da maconha, cujo uso se popularizou a partir dos anos 60. O que se sabe é que o cigarro de maconha tem praticamente a mesma composição de um cigarro comum – a única diferença significativa é o princípio ativo. No cigarro é a nicotina, na maconha o tetrahidrocanabinol, ou THC. Também é verdade que o fumante de maconha tem comportamentos mais arriscados que o de cigarro: traga mais profundamente, não usa filtro e segura a fumaça por mais tempo no pulmão (o que, aliás, segundo os cientistas, não aumenta os efeitos da droga).
Em compensação, boa parte dos maconheiros fuma muito menos e pára ou reduz o consumo depois dos 30 anos (parar cedo é sabidamente uma forma de diminuir drasticamente o risco de câncer). Em resumo: o usuário eventual de maconha, que é o mais comum, não precisa se preocupar com um aumento grande do risco de câncer. Quem fuma mais de um baseado por dia há mais de 15 anos deve pensar em parar.
Dependência
Algo entre 6% e 12% dos usuários, dependendo da pesquisa, desenvolve um uso compulsivo da maconha (menos que a metade das taxas para álcool e tabaco). A questão é: será que a maconha é a causa da dependência ou apenas uma válvula de escape. "Dependência de maconha não é problema da substância, mas da pessoa", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Escola Paulista de Medicina. Segundo Dartiu, há um perfil claro do dependente de maconha: em geral, ele é jovem, quase sempre ansioso e eventualmente depressivo. Pessoas que não se encaixam nisso não desenvolvem o vício. "E as que se encaixam podem tanto ficar dependentes de maconha quanto de sexo, de jogo, de internet", diz.
Muitos especialistas apontam para o fato de que a maconha está ficando mais perigosa – na medida em que fica mais potente. Ao longo dos últimos 40 anos, foi feito um melhoramento genético, cruzando plantas com alto teor de THC. Surgiram variedades como o skunk. No último ano, foram apreendidos carregamentos de maconha alterada geneticamente no Leste europeu – a engenharia genética é usada para aumentar a potência, o que poderia aumentar o potencial de dependência. Segundo o farmacólogo Leslie Iversen, autor do ótimo The Science of Marijuana (A ciência da maconha, sem tradução para o português) e consultor para esse tema da Câmara dos Lordes (o Senado inglês), esses temores são exagerados e o aumento da concentração de THC não foi tão grande assim.
Para além dessa discussão, o fato é que, para quem é dependente, maconha faz muito mal. Isso é especialmente verdade para crianças e adolescentes. "O sujeito com 15 anos não está com a personalidade formada. O uso exagerado de maconha pode ser muito danoso a ele", diz Dartiu. O maior risco para adolescentes que fumam maconha é a síndrome amotivacional, nome que se dá à completa perda de interesse que a droga causa em algumas pessoas. A síndrome amotivacional é muito mais freqüente em jovens e realmente atrapalha a vida – é quase certeza de bomba na escola e de crise na família.
Danos cerebrais
"Maconha mata neurônios." Essa frase, repetida há décadas, não passa de mito. Bilhões de dólares foram investidos para comprovar que o THC destrói tecido cerebral – às vezes com pesquisas que ministravam doses de elefante em ratinhos –, mas nada foi encontrado.
Muitas experiências foram feitas em busca de danos nas capacidades cognitivas do usuário de maconha. A maior preocupação é com a memória. Sabe-se que o usuário de maconha, quando fuma, fica com a memória de curto prazo prejudicada. São bem comuns os relatos de pessoas que têm idéias que parecem geniais durante o "barato", mas não conseguem lembrar-se de nada no momento seguinte. Isso acontece porque a memória de curto prazo funciona mal sob o efeito de maconha e, sem ela, as memórias de longo prazo não são fixadas (é por causa desse "desligamento" da memória que o usuário perde a noção do tempo). Mas esse dano não é permanente. Basta ficar sem fumar que tudo volta a funcionar normalmente. O mesmo vale para o raciocínio, que fica mais lento quando o usuário fuma muito freqüentemente.
Há pesquisas com usuários "pesados" e antigos, aqueles que fumam vários baseados por dia há mais de 15 anos, que mostraram que eles se saem um pouco pior em alguns testes, principalmente nos de memória e de atenção. As diferenças, no entanto, são sutis. Na comparação com o álcool, a maconha leva grande vantagem: beber muito provoca danos cerebrais irreparáveis e destrói a memória.
Coração
O uso de maconha dilata os vasos sangüíneos e, para compensar, acelera os batimentos cardíacos. Isso não oferece risco para a maioria dos usuários, mas a droga deve ser evitada por quem sofre do coração.
Infertilidade
Pesquisas mostraram que o usuário freqüente tem o número de espermatozóides reduzido. Ninguém conseguiu provar que isso possa causar infertilidade, muito menos impotência. Também está claro que os espermatozóides voltam ao normal quando se pára de fumar.
Depressão imunológica
Nos anos 70, descobriu-se que o THC afeta os glóbulos brancos, células de defesa do corpo. No entanto, nenhuma pesquisa encontrou relação entre o uso de maconha e a incidência de infecções.
Loucura
No passado, acreditava-se que maconha causava demência. Isso não se confirmou, mas sabe-se que a droga pode precipitar crises em quem já tem doenças psiquiátricas.
Gravidez
Algumas pesquisas apontaram uma tendência de filhos de mães que usaram muita maconha durante a gravidez de nascer com menor peso. Outras não confirmaram a suspeita. De qualquer maneira, é melhor evitar qualquer droga psicoativa durante a gestação. Sem dúvida, a mais perigosa delas é o álcool.
Maconha faz bem?
No geral, não. A maioria das pessoas não gosta dos efeitos e as afirmações de que a erva, por ser "natural", faz bem, não passam de besteira. Outros adoram e relatam que ela ajuda a aumentar a criatividade, a relaxar, a melhorar o humor, a diminuir a ansiedade. É inevitável: cada um é um.
O uso medicinal da maconha é tão antigo quanto a maconha. Hoje há muitas pesquisas com a cannabis para usá-la como remédio. Segundo o farmacólogo inglês Iversen, não há dúvidas de que ela seja um remédio útil para muitos e fundamental para alguns, mas há um certo exagero sobre seus potenciais. Em outras palavras: a maconha não é a salvação da humanidade. Um dos maiores desafios dos laboratórios é tentar separar o efeito medicinal da droga do efeito psicoativo – ou seja, criar uma maconha que não dê "barato". Muitos pesquisadores estão chegando à conclusão de que isso é impossível: aparentemente, as mesmas propriedades químicas que alteram a percepção do cérebro são responsáveis pelo caráter curativo. Esse fato é uma das limitações da maconha como medicamento, já que muitas pessoas não gostam do efeito mental. No Brasil, assim como em boa parte do mundo, o uso médico da cannabis é proibido e milhares de pessoas usam o remédio ilegalmente. Conheça alguns dos usos:
Câncer
Pessoas tratadas com quimioterapia muitas vezes têm enjôos terríveis, eventualmente tão terríveis que elas preferem a doença ao remédio. Há medicamentos para reduzir esse enjôo e eles são eficientes. No entanto, alguns pacientes não respondem a nenhum remédio legal e respondem maravilhosamente à maconha. Era o caso do brilhante escritor e paleontólogo Stephen Jay Gould, que, no mês passado, finalmente, perdeu uma batalha de 20 anos contra o câncer (veja mais sobre ele na página 23). Gould nunca tinha usado drogas psicoativas – ele detestava a idéia de que interferissem no funcionamento do cérebro. Veja o que ele disse: "A maconha funcionou como uma mágica. Eu não gostava do ‘efeito colateral’ que era o borrão mental. Mas a alegria cristalina de não ter náusea – e de não experimentar o pavor nos dias que antecediam o tratamento – foi o maior incentivo em todos os meus anos de quimioterapia".
Aids
Maconha dá fome. Qualquer um que fuma sabe disso (aliás, esse é um de seus inconvenientes: ela engorda). Nenhum remédio é tão eficiente para restaurar o peso de portadores do HIV quanto a maconha. E isso pode prolongar muito a vida: acredita-se que manter o peso seja o principal requisito para que um soropositivo não desenvolva a doença. O problema: a cannabis tem uma ação ainda pouco compreendida no sistema imunológico. Sabe-se que isso não representa perigo para pessoas saudáveis, mas pode ser um risco para doentes de Aids.
Esclerose múltipla
Essa doença degenerativa do sistema nervoso é terrivelmente incômoda e fatal. Os doentes sentem fortes espasmos musculares, muita dor e suas bexigas e intestinos funcionam muito mal. Acredita-se que ela seja causada por uma má função do sistema imunológico, que faz com que as células de defesa ataquem os neurônios. A maconha alivia todos os sintomas. Ninguém entende bem por que ela é tão eficiente, mas especula-se que tenha a ver com seu pouco compreendido efeito no sistema imunológico.
Dor
A cannabis é um analgésico usado em várias ocasiões. Os relatos de alívio das cólicas menstruais são os mais promissores.
Glaucoma
Essa doença caracteriza-se pelo aumento da pressão do líquido dentro do olho e pode levar à cegueira. Maconha baixa a pressão intraocular. O problema é que, para ser um remédio eficiente, a pessoa tem que fumar a cada três ou quatro horas, o que não é prático e, com certeza, é nocivo (essa dose de maconha deixaria o paciente eternamente "chapado"). Há estudos promissores com colírios feitos à base de maconha, que agiriam diretamente no olho, sem afetar o cérebro.
Ansiedade
Maconha é um remédio leve e pouco agressivo contra a ansiedade. Isso, no entanto, depende do paciente. Algumas pessoas melhoram após fumar; outras, principalmente as pouco habituadas à droga, têm o efeito oposto. Também há relatos de sucesso no tratamento de depressão e insônia, casos em que os remédios disponíveis no mercado, embora sejam mais eficientes, são também bem mais agressivos e têm maior potencial de dependência.
Dependência
Dois psiquiatras brasileiros, Dartiu Xavier e Eliseu Labigalini, fizeram uma experiência interessante. Incentivaram dependentes de crack a fumar maconha no processo de largar o vício. Resultado: 68% deles abandonaram o crack e, depois, pararam espontaneamente com a maconha, um índice altíssimo. Segundo eles, a maconha é um remédio feito sob medida para combater a dependência de crack e cocaína, porque estimula o apetite e combate a ansiedade, dois problemas sérios para cocainômanos. Dartiu e Eliseu pretendem continuar as pesquisas, mas estão com problemas para conseguir financiamento – dificilmente um órgão público investirá num trabalho que aposte nos benefícios da maconha.
O passado
O primeiro registro do contato entre o Homo sapiens e a Cannabis sativa é de 6 000 anos atrás. Trata-se da marca de uma corda de cânhamo impressa em cacos de barro, na China. O emprego da fibra, não só em cordas mas também em vários tecidos e, depois, na fabricação de papel, é um dos mais antigos usos da maconha. Graças a ele, a planta, original da região ao norte do Afeganistão, nos pés do Himalaia, tornou-se a primeira cultivada pelo homem com usos não alimentícios e espalhou-se por toda a Ásia e depois pela Europa e África.
Mas há um uso da maconha que pode ser tão antigo quanto o da fibra do cânhamo: o medicinal. Os chineses conhecem há pelo menos 2 000 anos o poder curativo da droga, como prova o Pen-Ts’ao Ching, considerado a primeira farmacopéia conhecida do mundo (farmacopéia é um livro que reúne fórmulas e receitas de medicamentos). O livro recomenda o uso da maconha contra prisão-de-ventre, malária, reumatismo e dores menstruais. Também na Índia, a erva já há milênios é parte integral da medicina ayurvédica, usada no tratamento de dezenas de doenças. Sem falar que ela ocupa um lugar de destaque na religião hindu. Pela mitologia, maconha era a comida favorita do deus Shiva, que, por isso, viveria o tempo todo "chapado". Tomar bhang seria uma forma de entrar em comunhão com Shiva.
O Hinduísmo não é a única religião a dar destaque para a cannabis. Para os budistas da tradição Mahayana, Buda passou seis anos comendo apenas uma semente de maconha por dia. Sua iluminação teria sido atingida após esse período de quase-jejum. Da Índia, a maconha migrou para a Mesopotâmia, ainda em tempos pré-cristãos, e de lá para o Oriente Médio. Portanto, ela já estava presente na região quando começou a expansão do Império Árabe. Com a proibição do álcool entre o povo de Maomé, iniciou-se uma acalorada discussão sobre se a maconha deveria ser banida também. Por séculos, consumiu-se cannabis abundantemente nas terras muçulmanas até que, na Idade Média, muitos islâmicos abandonaram o hábito. A exceção foram os sufi, membros de uma corrente considerada mais mística e esotérica do Islã, que, até bem recentemente, consideravam a cannabis fundamental em seus ritos.
Os gregos usaram velas e cordas de cânhamo nos seus navios, assim como, depois, os romanos. Sabe-se que o Império Romano tinha pelo menos conhecimento dos poderes psicoativos da maconha. O historiador latino Tácito, que viveu no século I d.C., relata que os citas, um povo da atual Turquia, tinham o costume de armar uma tenda, acender uma fogueira e queimar grande quantidade de maconha. Daí ficavam lá dentro, numa versão psicodélica do banho turco.
Graças ao contato com os árabes, grande parte da África conheceu a erva e incorporou-a aos seus ritos e à sua medicina – dos países muçulmanos acima do Saara até os zulus da África do Sul. A Europa toda também passou a plantar maconha e usava extensivamente a fibra do cânhamo, mas há raríssimos registros do seu uso como psicoativo naquele continente. Pode ser que isso se deva ao clima. O THC é uma resina produzida pela planta para proteger suas folhas e flores do sol forte. Na fria Europa, é possível que tenha se desenvolvido uma variação da Cannabis sativa com menos THC, já que não havia tanto sol para ameaçar o arbusto.
O fato é que, na Renascença, a maconha se transformou no principal produto agrícola da Europa. E sua importância não foi só econômica: a planta teve uma grande participação na mudança de mentalidade que ocorreu no século XV. Os primeiros livros depois da revolução de Gutemberg foram impressos em papel de cânhamo. As pinturas dos gênios da arte eram feitas em telas de cânhamo (canvas, a palavra usada em várias línguas para designar "tela", é uma corruptela holandesa do latim cannabis). E as grandes navegações foram impulsionadas por velas de cânhamo – segundo o autor americano Rowan Robinson, autor de O Grande Livro da Cannabis, havia 80 toneladas de cânhamo, contando o velame e as cordas, no barco comandado por Cristóvão Colombo em 1496. Ou seja, a América foi descoberta graças à maconha. Irônico.
Sobre as luzes da Renascença caíram as sombras da Inquisição – um período em que a Igreja ganhou muita força e passou a exercer o papel de polícia, julgando hereges em seu tribunal e condenando bruxas à fogueira. "As bruxas nada mais eram do que as curandeiras tradicionais, principalmente as de origem celta, que utilizavam plantas para tratar as pessoas, às vezes plantas com poderes psicoativos", diz o historiador Henrique Carneiro, especialista em drogas da Universidade Federal de Ouro Preto. Não há registros de que maconheiros tenham sido queimados no século XVI – inclusive porque o uso psicoativo da maconha era incomum na Europa –, mas é certo que cristalizou-se naquela época uma antipatia cristã por plantas que alteram o estado de consciência. "O Cristianismo afirmou seu caráter de religião imperial e, sob seus domínios, a única droga permitida é o álcool, associado com o sangue de Cristo", diz Henrique.
Em 1798, as tropas de Napoleão conquistaram o Egito. Até hoje não estão muito claras as razões pelas quais o imperador francês se aventurou no norte da África (vaidade, talvez). Mas pode ser que o principal motivo fosse a intenção de destruir as plantações de maconha, que abasteciam de cânhamo a poderosa Marinha da Inglaterra. O fato é que coube a Napoleão promulgar a primeira lei do mundo moderno proibindo a maconha. Os egípcios eram fumantes de haxixe, a resina extraída da folha e da flor da maconha constituída de THC concentrado. Mas a proibição saiu pela culatra. Os egípcios ignoraram a lei e continuaram fumando como sempre fizeram. Em compensação, os europeus ouviram falar da droga e ela rapidamente virou moda na Europa, principalmente entre os intelectuais. "O haxixe está substituindo o champagne", disse o escritor Théophile Gautier em 1845, depois da conquista da Argélia, que, na época, era outro grande consumidor de THC.
No Brasil, a planta chegou cedo, talvez ainda no século XVI, trazida pelos escravos (o nome "maconha" vem do idioma quimbundo, de Angola. Mas, até o século XIX, era mais usual chamar a erva de fumo-de-angola ou de diamba, nome também quimbundo). Por séculos, a droga foi tolerada no país, provavelmente fumada em rituais de candomblé (teria sido o presidente Getúlio Vargas que negociou a retirada da maconha dos terreiros, em troca da legalização da religião). Em 1830, o Brasil fez sua primeira lei restringindo a planta. A Câmara Municipal do Rio de Janeiro tornou ilegal a venda e o uso da droga na cidade e determinou que "os contraventores serão multados, a saber: o vendedor em 20 000 réis, e os escravos e demais pessoas, que dele usarem, em três dias de cadeia." Note que, naquela primeira lei proibicionista, a pena para o uso era mais rigorosa que a do traficante. Há uma razão para isso. Ao contrário do que acontece hoje, o vendedor vinha da classe média branca e o usuário era quase sempre negro e escravo.
O presente
Segundo dados da ONU, 147 milhões de pessoas fumam maconha no mundo, o que faz dela a terceira droga psicoativa mais consumida do mundo, depois do tabaco e do álcool. A droga é proibida em boa parte do mundo, mas, desde que a Holanda começou a tolerá-la, na década de 70, alguns outros países europeus seguiram os passos da descriminalização. Itália e Espanha há tempos aceitam pequenas quantidades da erva – embora a Espanha esteja abandonando a posição branda e haja projetos de lei, na Itália, no mesmo sentido. O Reino Unido acabou de anunciar que descriminalizou o uso da maconha – a partir do ano que vem, a droga será apreendida e o portador receberá apenas uma advertência verbal. Os ingleses esperam, assim, poder concentrar seus esforços na repressão de drogas mais pesadas.
No ano passado, Portugal endureceu as penas para o tráfico, mas descriminalizou o usuário de qualquer droga, desde que ele seja encontrado com quantidades pequenas. Porte de drogas virou uma infração administrativa, como parar em lugar proibido.
Nos últimos anos, os Estados Unidos também mudaram sua forma de lidar com as drogas. Dentro da tendência mundial de ver a questão mais como um problema de saúde do que criminal, o país, em vez de botar na cadeia, obriga o usuário a se tratar numa clínica para dependentes. "Essa idéia é completamente equivocada", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier, refletindo a opinião de muitos especialistas. "Primeiro porque nem todo usuário é dependente. Segundo, porque um tratamento não funciona se é compulsório – a pessoa tem que querer parar", diz. No sistema americano, quem recusa o tratamento ou o abandona vai para a cadeia. Portanto, não é uma descriminalização. "Chamo esse sistema de ‘solidariedade autoritária’", diz o jurista Maierovitch. O Brasil planeja adotar o mesmo modelo.
O futuro
Há possibilidades de uma mudança no tratamento à maconha? "No Brasil, não é fácil", diz Maierovitch, que, enquanto era secretário nacional antidrogas do governo de Fernando Henrique Cardoso, planejou a descriminalização. "A lei hoje em vigor em Portugal foi feita em conjunto conosco, com o apoio do presidente", afirma. A idéia é que ela fosse colocada em prática ao mesmo tempo nos dois países. Segundo Maierovitch, Fernando Henrique mudou de idéia depois. O jurista afirma que há uma enorme influência americana na política de drogas brasileira. O fato é que essa questão mais tira do que dá votos e assusta os políticos – e não só aqui no Brasil. O deputado federal Fernando Gabeira, hoje no Partido dos Trabalhadores, é um dos poucos identificados com a causa da descriminalização. "Pretendo, como um primeiro passo, tentar a legalização da maconha para uso médico", diz. Mas suas idéias estão longe de ser unanimidade mesmo dentro do seu partido.
No remoto caso de uma legalização da compra e da venda, haveria dois modelos possíveis. Um seria o monopólio estatal, com o governo plantando e fornecendo as drogas, para permitir um controle maior. A outra possibilidade seria o governo estabelecer as regras (composição química exigida, proibição para menores de idade, proibição para fumar e dirigir), cobrar impostos (que seriam altíssimos, inclusive para evitar que o preço caia muito com o fim do tráfico ilegal) e a iniciativa privada assumir o lucrativo negócio. Não há no horizonte nenhum sinal de que isso esteja para acontecer. Mas a Super apurou, em consulta ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, que a Souza Cruz registrou, em 1997, a marca Marley – fica para o leitor imaginar que produto a empresa de tabaco pretende comercializar com o nome do ídolo do reggae.
A popularidade da maconha explodiu em 1920, quando o álcool foi proibido
O consumo moderado de maconha não provoca nenhum dano sério à saúde
Das cordas às velas, havia 80 toneladas de cânhamo no navio de Colombo
Na livraria
O Grande Livro da Cannabis, Rowan Robinson, Jorge Zahar, 1999
A Maconha, Fernando Gabeira, Publifolha, 2000
Diamba Sarabamba, Anthony Henman e Osvaldo Pessoa Jr. (organizações), Ground, 1986
Plantas de los Dioses, Richard Evans Schultes e Albert Hofmann, Fondo de Cultura Económica, México, 1982
Amores e Sonhos da Flora, Henrrique Carneiro, Xamã, 2002
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Horario Eleitoral ou Zorra Total?
Agora vaiii... Em epoca de eleições, escolha de candidatos e toda essa merda.....o povo se surpreende com um horario eleitoral de palhaços....Tiririca, Mulher Pera, Ronaldo Esper, Netinho.....e por ai vai...
Pensem bem na hora de escolher o candidato e lembrem-se: O brasileiro tem a mesma mania de um estagiario.....vive reclamando.....mas não lembra das merdas que fez antes.
Segue abaixo um texto de Arnaldo Jabour: Freud explica posições politicas.
"A psicanálise é uma grande arma para a ciência política. Principalmente no Brasil, à beira das eleições, com todos os ódios e neuroses aflorando. Por trás das ideologias e certezas de cada um, jaz o trauma, pulsando como uma velha ferida - a neurose, o sintoma. Há uma doença manchando a bandeira política de cada um. Imaginemos uma sessão de análise de grupo. No centro, um psicanalista de charuto e barba. Em volta, intelectuais pensando o Brasil."
Psicanalista
- O que fazer diante da realidade brasileira?
O Amante do Povo
- Doutor... é tão terrível ver a miséria deste país... Eu sofro tanto com isso...
Psi - O senhor é miserável? - Não... ganho até bem...
Psi - O senhor luta por eles? - Não; só choro.
Psi - Essa 'dor' pelos pobres lhe traz muito lucro. Sente-se 'bom'. Eles não ganham nada com isso. O próximo!...
***
O Erudito - Eu sei tudo, doutor. Inclusive do seu Freud. Eu li tudo. Não há saída... só me resta ficar aqui na universidade pensando na aporia (bem sem saída) histórica em que estamos, não há um 'telos' (luz no fim do túnel) possível... Como filósofos, não podemos sacrificar nossa 'gravitas' (seriedade) com uma 'praxis' (prática-teórica) que seja apenas um 'ersatz' (quebra-galho) da verdadeira revolução...
Psi - 'Acabou o tempo da reflexão; começa a ação (Marx)'... O senhor tem inveja de quem vai à luta... A filosofia para o senhor é apenas um mecanismo de defesa. Saia!
***
O Radical Durão - Temos de encarar os problemas do país radicalmente, sem frescuras. Essas complexidades democráticas modernas, ambigüidades políticas são coisas de veado!
Psi - O senhor tem medo da complexidade ou medo de ser veado? O proximo!...
***
A Vítima - Só eu estou certo! Apanhei muito em 69. Tortura, porrada.
Psi - O senhor acha que se santificou no pau-de-arara? Nunca o senhor se sentiu tão puro e nobre como durante a ditadura, não é? Orgulhe-se da luta, não das porradas. Mesmo um grande herói torturado pode errar politicamente.
***
O Limpinho - Doutor... Eu tenho nojo desses políticos, desta sordidez... Como artista e pensador, eu me mantenho longe desse lixo todo, deste horror brasileiro... Eu sonho com um Brasil novo, puro...
Psi - O senhor lava as mãos a toda hora? Não olha as próprias fezes? Sexo e beijo de boca aberta nem pensar, né?
***
O Infeliz - Doutor, eu estou chorando assim porque minha vida é uma frustração... Ser a favor dos pobres nos leva ao fracasso. Eu poderia ter ganho dinheiro, mulheres, sucesso, mas sou de esquerda.
Psi - O senhor fracassou porque é de esquerda ou é de esquerda porque fracassou? Pra fora!...
***
O Sonhador - Só amo as utopias, doutor... Este governo vive no administrativismo, na política do possível... Essas reformas podem funcionar na prática; na teoria não funcionam. Só amo o sonho... Sem sonho, não ganhamos nada e, se ganharmos, perdemos o sonho...
Psi - O senhor ainda mora com sua mãe, não?
***
O Paranóico - O mundo atual é um conto-do-vigário em que caímos. Há uma conspiração política aí fora para nos destruir... Tudo que parece ser, não é. Querem me pegar desprevenido pelas costas.
Psi - O senhor é gay? - Se disser isso de novo, eu lhe mato!!!... E vocês?!... Estão me olhando por quê? (foge gritando).
***
O Anal - Este país não tem jeito. Só uma grande catástrofe, uma tempestade de merda consertava isso aí... Só depois de uma grande cagada política, aí, sim, purificados, teríamos a bonança...
Psi - Seu pai lhe batia muito, quando você se sujava nas calças?
***
O Mártir Imaginário - Tiradentes foi esquartejado... Frei Caneca enforcado... Como é belo o martírio dos que morreram pela salvação do Brasil... Grandes heróis mortos...
Psi - O senhor acha a vitória uma 'coisa de burguês'... Não é?... Se o senhor fizesse sucesso, seu pai falido lhe castraria?
***
O Nostálgico - Ahhh... como era verde o meu vale!... Ai, como era bom antigamente... Vida mais simples, todos se amavam... Aí chegou o neoliberalismo e estragou tudo.
Psi - O senhor ama a utopia em marcha à ré? Deve ter sido uma criança mimada, filho único... Aí, nasceram os irmãozinhos, não foi?
***
O Imutável - Pode mudar o mundo. Eu não mudo um milímetro em minhas idéias... Há valores de que não abdico!
Psi - O senhor tem medo de mudar de sexo? De virar mulher?... ("Arghh!" - mais um que foge gritando).
***
O Militante do Ar - Avante povo! Para as barricadas! Revolução ou morte!
Psi - O senhor já pegou em armas? Ahh, não? Fica em casa de pijama torcendo pelo 'povo' como quem torce pelo Palmeiras? É um caso de quixotismo preguiçoso ou militância imaginária...
***
O 'Bode Preto' - Tudo é uma bosta... Tudo é cronicamente inviável... Beco sem saída... Não há luz no fim do túnel...
Psi - O senhor é paulista? Se tudo é uma bosta, sobra apenas o senhor - o único que presta... Isso é narcisismo de paulista engarrafado no caos urbano da cidade... Tome Prozac e vá para a Bahia!...
***
Eu estou aí dentro... E você, leitor intelectual e neurótico, 'meu semelhante e irmão', onde você se enquadra?
Sem mais.....
Pensem bem na hora de escolher o candidato e lembrem-se: O brasileiro tem a mesma mania de um estagiario.....vive reclamando.....mas não lembra das merdas que fez antes.
Segue abaixo um texto de Arnaldo Jabour: Freud explica posições politicas.
"A psicanálise é uma grande arma para a ciência política. Principalmente no Brasil, à beira das eleições, com todos os ódios e neuroses aflorando. Por trás das ideologias e certezas de cada um, jaz o trauma, pulsando como uma velha ferida - a neurose, o sintoma. Há uma doença manchando a bandeira política de cada um. Imaginemos uma sessão de análise de grupo. No centro, um psicanalista de charuto e barba. Em volta, intelectuais pensando o Brasil."
Psicanalista
- O que fazer diante da realidade brasileira?
O Amante do Povo
- Doutor... é tão terrível ver a miséria deste país... Eu sofro tanto com isso...
Psi - O senhor é miserável? - Não... ganho até bem...
Psi - O senhor luta por eles? - Não; só choro.
Psi - Essa 'dor' pelos pobres lhe traz muito lucro. Sente-se 'bom'. Eles não ganham nada com isso. O próximo!...
***
O Erudito - Eu sei tudo, doutor. Inclusive do seu Freud. Eu li tudo. Não há saída... só me resta ficar aqui na universidade pensando na aporia (bem sem saída) histórica em que estamos, não há um 'telos' (luz no fim do túnel) possível... Como filósofos, não podemos sacrificar nossa 'gravitas' (seriedade) com uma 'praxis' (prática-teórica) que seja apenas um 'ersatz' (quebra-galho) da verdadeira revolução...
Psi - 'Acabou o tempo da reflexão; começa a ação (Marx)'... O senhor tem inveja de quem vai à luta... A filosofia para o senhor é apenas um mecanismo de defesa. Saia!
***
O Radical Durão - Temos de encarar os problemas do país radicalmente, sem frescuras. Essas complexidades democráticas modernas, ambigüidades políticas são coisas de veado!
Psi - O senhor tem medo da complexidade ou medo de ser veado? O proximo!...
***
A Vítima - Só eu estou certo! Apanhei muito em 69. Tortura, porrada.
Psi - O senhor acha que se santificou no pau-de-arara? Nunca o senhor se sentiu tão puro e nobre como durante a ditadura, não é? Orgulhe-se da luta, não das porradas. Mesmo um grande herói torturado pode errar politicamente.
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O Limpinho - Doutor... Eu tenho nojo desses políticos, desta sordidez... Como artista e pensador, eu me mantenho longe desse lixo todo, deste horror brasileiro... Eu sonho com um Brasil novo, puro...
Psi - O senhor lava as mãos a toda hora? Não olha as próprias fezes? Sexo e beijo de boca aberta nem pensar, né?
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O Infeliz - Doutor, eu estou chorando assim porque minha vida é uma frustração... Ser a favor dos pobres nos leva ao fracasso. Eu poderia ter ganho dinheiro, mulheres, sucesso, mas sou de esquerda.
Psi - O senhor fracassou porque é de esquerda ou é de esquerda porque fracassou? Pra fora!...
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O Sonhador - Só amo as utopias, doutor... Este governo vive no administrativismo, na política do possível... Essas reformas podem funcionar na prática; na teoria não funcionam. Só amo o sonho... Sem sonho, não ganhamos nada e, se ganharmos, perdemos o sonho...
Psi - O senhor ainda mora com sua mãe, não?
***
O Paranóico - O mundo atual é um conto-do-vigário em que caímos. Há uma conspiração política aí fora para nos destruir... Tudo que parece ser, não é. Querem me pegar desprevenido pelas costas.
Psi - O senhor é gay? - Se disser isso de novo, eu lhe mato!!!... E vocês?!... Estão me olhando por quê? (foge gritando).
***
O Anal - Este país não tem jeito. Só uma grande catástrofe, uma tempestade de merda consertava isso aí... Só depois de uma grande cagada política, aí, sim, purificados, teríamos a bonança...
Psi - Seu pai lhe batia muito, quando você se sujava nas calças?
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O Mártir Imaginário - Tiradentes foi esquartejado... Frei Caneca enforcado... Como é belo o martírio dos que morreram pela salvação do Brasil... Grandes heróis mortos...
Psi - O senhor acha a vitória uma 'coisa de burguês'... Não é?... Se o senhor fizesse sucesso, seu pai falido lhe castraria?
***
O Nostálgico - Ahhh... como era verde o meu vale!... Ai, como era bom antigamente... Vida mais simples, todos se amavam... Aí chegou o neoliberalismo e estragou tudo.
Psi - O senhor ama a utopia em marcha à ré? Deve ter sido uma criança mimada, filho único... Aí, nasceram os irmãozinhos, não foi?
***
O Imutável - Pode mudar o mundo. Eu não mudo um milímetro em minhas idéias... Há valores de que não abdico!
Psi - O senhor tem medo de mudar de sexo? De virar mulher?... ("Arghh!" - mais um que foge gritando).
***
O Militante do Ar - Avante povo! Para as barricadas! Revolução ou morte!
Psi - O senhor já pegou em armas? Ahh, não? Fica em casa de pijama torcendo pelo 'povo' como quem torce pelo Palmeiras? É um caso de quixotismo preguiçoso ou militância imaginária...
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O 'Bode Preto' - Tudo é uma bosta... Tudo é cronicamente inviável... Beco sem saída... Não há luz no fim do túnel...
Psi - O senhor é paulista? Se tudo é uma bosta, sobra apenas o senhor - o único que presta... Isso é narcisismo de paulista engarrafado no caos urbano da cidade... Tome Prozac e vá para a Bahia!...
***
Eu estou aí dentro... E você, leitor intelectual e neurótico, 'meu semelhante e irmão', onde você se enquadra?
Sem mais.....
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